Futebol: a traição impossível

A traição é uma possibilidade inexistente. Não sofre de ciúmes dos demais clubes, pois seria a negação do amor monogâmico. Sentem-se privilegiados por amar o clube e a fidelidade é uma regra geral que não precisa de justificação, é assumida com naturalidade, sem dores, mortificações e explicações. Amam porque, simplesmente, amam. Um amor histórico, idealista, romântico, na busca permanente pela vitória e sucesso, baseado no prazer e gozo. Quando o juiz apita o início da partida, a esperança é sua companheira, sempre tendo a necessidade de reafirmação permanente dos prazeres e emoções através das competições. Assim, este amor é sempre otimista, o ceticismo existente é pequeno, frágil, muito embora possa ser um convidado inesperado.

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O futebol é a consagração plena do amor romântico, na busca pelo gozo e pelo prazer, um amor otimista e forte em si mesmo na procura permanente pelo encontro, marcado pela saudade e admiração pelo manto sagrado, pelas cores, hinos e cantos da arquibancada repleta de torcedores fiéis a uma camisa e a uma história de glórias e sucessos eternos. Uma relação amorosa de fé e devoção, sem a possibilidade não só de conclusão, como de traição ao clube do coração. A promiscuidade amorosa e a infidelidade, marcas profundas das relações sociais atuais, simplesmente não existem no futebol. Ele se caracteriza como um reservatório de amor que acompanha o torcedor a vida toda e com o qual envelhece com elegância e dignidade. Orgulhosos desse amor público ao clube do coração, os torcedores cultivam seus ídolos e transformam-nos rapidamente em heróis, projetando neles sonhos de glória e sucesso. Ao contrário da vida social regrada, no futebol não é preciso ser bem-comportado, disciplinado e obediente, mas, sim, seguir o impulso freudiano que salta do peito e explode em alegria e felicidade.

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Nilso Ouriques Graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutorando no Serviço Social da UFSC. Professor da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina. Autor do livro A Miséria do Esporte – Reflexões sobre as políticas públicas em Santa Catarina (Editora Insular, 2010). O autor de Futebol – A Traição Impossível rompe com o liberalismo econômico na explicação do futebol brasileiro. Inicia  um amplo debate, tendo como suporte teórico a Teoria da Dependência na América latina.