Copa do Mundo na África do Sul – Um legado para quem?

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Categoria: SKU: 978-85-7474-752-1

Descrição

Organizado por Eddie Cottle

Traduzido por Lara Freitas


ISBN: 978-85-7474-752-1
Páginas: 408 ilustradas

Peso: 750g

Ano: 2014

Foto da capa: Estádio do Soccer City, na abertura da Copa 2010 na África do Sul

Capa: Rodrigo Poeta

Aqui um link para outras criações do Rodrigo Poeta

Informações à edição brasileira

Uma lição vinda da África do Sul:

Os cartéis da construção estão aumentando
significativamente os custos de infraestrutura
da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil?

Eddie Cottle, Paulo Capela, André Furlan Meirinho

Introdução

A luta e a organização dos trabalhadores da construção civil e madeira da
África do Sul para reivindicar melhores condições de trabalho antes e depois
da realização da Copa do Mundo de Futebol de 2010 naquele país tornaram-se referência para as jornadas de lutas e organização dos trabalhadores da
construção civil de todo o mundo.

A exitosa organização dos sindicatos possibilitou inúmeros ganhos aos
trabalhadores e também o desenvolvimento de uma metodologia de análise
das obras das arenas “padrão” FIFA, capaz de desvelar os valores dos superfaturamentos das indústrias da construção em conluio com empreiteiras.

Assim, em abril de 2013, os diretores do Instituto de Estudos Latino-
Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (IELA-UFSC),
têm um primeiro contato com o pesquisador sul-africano Eddie Cottle,
convidado para uma das conferências da IX edição das Jornadas Bolivarianas, principal atividade científica anual do Instituto. Eddie é convidado por
seu protagonismo durante todo o processo de luta dos trabalhadores sul-africanos que laboraram nas obras da Copa do Mundo FIFA de Futebol de 2010-África do Sul e também por ser organizador, autor e editor do original
em língua inglesa: South Africa’s World Cup: a legacy for whom?. Em sua obra,
juntamente com outros 12 importantes pesquisadores sul-africanos, ele põe
luz sobre inúmeros fatos envolvendo a realização da Copa FIFA de Futebol
de 2010.

Em julho de 2013, Eddie Cottle retorna ao IELA para realizar uma investigação conjunta com pesquisadores e acadêmicos do Instituto sobre o
custo das arenas de futebol para a Copa FIFA de Futebol de 2014 no Brasil.
Utilizando-se da metodologia empregada por ele na África do Sul, são encontrados números importantes sobre os valores das obras das arenas construídas e reformadas no Brasil. São números que ainda carecem de mais
aprofundamentos, mas que já permitem visualizar muitos dos valores que
estão sendo gastos a mais para a realização da Copa do Mundo de futebol
2014 no Brasil.

O relatório preliminar do IELA propunha-se tornar público os primeiros números da operação dos cartéis da construção durante a execução de
obras da Copa do Mundo de Futebol FIFA e a primeira atividade da parceria
que passaremos a estabelecer com os pesquisadores do continente africano
no sentido de potencializar nossas ações de esclarecimento e oferecimento
de informações científicas para a ação dos trabalhadores numa perspectiva
desde o sul, fugindo assim do determinismo científico eurocêntrico e estadunidense que tem enfraquecido as ações dos pesquisadores universitários
brasileiros em vincularem-se organicamente às lutas populares e no mesmo
sentido produzido um academicismo estéril às causas nacionais.

Já em 2008 o relatório do Comitê de Concorrência da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) do setor de construção descobriu que, “infelizmente, a indústria da construção foi vítima da atividade de cartel, conforme foi exposto em matérias amplamente divulgadas
em todo o mundo”. Na mesa-redonda do OCDE, 19 países da Europa, Ásia,
América do Norte, e principalmente, da África do Sul denunciaram amplamente a atividade de cartel. Foi descoberto cartel na indústria do cimento na
Turquia e na Alemanha, incluindo fixação de preços e divisão de mercado.

Na Holanda, as empresas de construção foram consideradas culpadas
por manter contas secretas nas quais mantinham valores de fraudes cometidas em 8,8% de todas as obras públicas que executaram. Valores, portanto, produto de conluio. No Japão e no Reino Unido, grandes empresas
envolveram-se na manipulação das licitações para construção de pontes, estradas, escolas, hospitais e conjuntos habitacionais, para citar apenas alguns
exemplos.

Nesse encontro do OCDE, a África do Sul apresentou seu relatório sobre os custos excessivos relacionados aos estádios da Copa do Mundo FIFA
2010 que, na época, estavam sob suspeitas de ter licitações fraudulentas.


Através de práticas de conluio, fraude nas licitações e superfaturamento,
as empresas de construção de obras para a Copa FIFA vêm obtendo em todo
mundo enormes ganhos financeiros à custa dos trabalhadores e dos contribuintes dos países-sede. O que tem ocorrido com as irregularidades do setor
de construção é preocupante pelo fato de que esse setor não é somente vital
para todos os aspectos da atividade econômica, mas também porque oferece
a infraestrutura necessária para suprir as necessidades básicas das pessoas
tais como habitação, escolas, universidades, hospitais e uma série de outras
edificações do governo e outras instalações públicas. O setor de construção
também constrói estradas, ferrovias, portos, sistemas de esgoto etc.

Implicitamente, isso significa que as metas de desenvolvimento propostas pelos governos nacionais que sediam a Copa FIFA de Futebol são
frustradas em parte pela transferência maciça de riqueza desses Estados para
empresas privadas, em detrimento da criação de emprego e redistribuição
de renda para a população, inibindo assim os ganhos econômicos a que se
destina. É neste contexto que se insurge o descontentamento nacional no
Brasil, levando milhares de pessoas, nas principais cidades, a manifestarem
sua indignação de forma legítima contra o aumento dos custos de transporte, a má qualidade dos serviços de saúde e de educação, incluindo os custos
crescentes da realização da Copa do Mundo da FIFA.

São as práticas de conluio de empresas de construção que produzem
os custos exorbitantes dos estádios da Copa do Mundo e dos projetos de
infraestrutura. Na África do Sul, que sediou a Copa do Mundo FIFA 2010,
somente o custo dos estádios aumentou em 1.008%.
No Brasil, o aumento
dos custos dos estádios da Copa do Mundo já está em 327%, segundo as
estimativas de 2013, e aumentarão rapidamente conforme os estádios sejam
concluídos. No ritmo atual de aumento dos custos, é provável que o Brasil
realize a Copa do Mundo FIFA mais cara da história das Copas do Mundo.

Portanto, esta análise desafia a população e o governo brasileiro a seguirem, imediatamente, o exemplo dado pela Comissão de Concorrência da
África do Sul, que investigou as operações do cartel de construção e a forma
como atuaram na construção das obras da Copa FIFA, levando finalmente
as empresas culpadas a um tribunal que multou as empresas de construção
por práticas de concorrência desleais, estando as empresas na eminência de
também serem consideradas empresas não cooperativas.

Lições dadas pela África do Sul

O aumento de custos da Copa do Mundo FIFA 2010 na África do Sul
foi significativo e inicialmente atribuído à vulnerabilidade dos países por
conta da crise econômica mundial 2008-2009. O ex-ministro da Fazenda
sul-africano, Trevor Manuel, afirmou, em outubro de 2008, que as obras da
construção da Copa do Mundo seriam afetadas porque “os custos de construção são uma grande ameaça para o que queremos fazer”. No entanto,
ele não observou que em outubro de 2007 a Comissão de Concorrência da
África do Sul montou uma equipe para rever os materiais de construção e o
setor de serviços.


A estimativa do custo inicial foi calculada em 2,3 bilhões de rands (moeda sul-africana) – o equivalente a 519 milhões, em reais – e seria pago pelo
governo sul-africano, em grande parte para financiar os estádios e a infra-estrutura. Entretanto, o custo total estimado de 2010 (e é provável que seja
ainda muito maior) para o governo da África do Sul era de 39,3 bilhões de
rands (8,9 bilhões, em reais) – um aumento absurdo de 1.709% sobre a estimativa inicial.
Os custos dos estádios aumentaram da estimativa inicial de
1,5 bilhões de rands (338 milhões, em reais) para a última estimativa de custos em mais de 17,4 milhões de rands (3,9 bilhões, em reais), representando
um aumento de 1.008%.

Cinco grandes empresas de construção civil na África do Sul: Aveng,
Murray & Roberts, Group Five, Wilson Bayly Holmes-Ovcon (WBHO) e
Basil Read foram as principais empreiteiras na construção dos estádios para
a Copa do Mundo FIFA 2010 e vários projetos de infraestrutura nos quais
elas obtiveram lucros substanciais. Em 2007, todas estavam sob investigação
da Comissão de Concorrência da África do Sul por suspeita de conluio e
práticas anticompetitivas em relação a esses projetos.


Infelizmente, a comissão não investigou as ações de empresas internacionais tais como a alemã HBM Stadien-und Sportstättenbau GmbH, empresa especializada na construção de estádios, a GMP Architekten and Hi-ghtex engineers; a italiana Cimolai; a francesa Bouygues e a holandesa BAM
International, envolvidas na construção dos estádios e que tiveram grandes
aumentos dos custos de construção.


Em 17 de julho de 2013, no tribunal da Comissão da Concorrência da
África do Sul foram estimados de forma moderada em cerca de 4,7 bilhões
De rands(1 bilhão, em reais) os “lucros indevidos” obtidos por empresas de
construção nos preparativos para a Copa do Mundo 2010 e em outros projetos. Elas foram multadas, consequentemente, em um total de 1,5 bilhões de
rands(338 milhões, em reais).
As empresas de construção que não concordaram com a resolução, tais como a Group 5, a Construction ID e a Power
Construction, agora enfrentam um possível processo.


O setor da construção brasileiro


De acordo com o Portal 2014 brasileiro (www.portal2014.org.br/andamento-obras) as empresas de construção contratadas para a Copa do Mundo
e infraestrutura relacionada são: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, OAS Empreendimentos, Mendes Júnior, Via Engineering, Andrade Mendonça, Construcap, Egesa, Hap e Engevix. As duas maiores empresas
de construção brasileiras envolvidas na Copa do Mundo são a Andrade Gutierrez e a Odebrecht.

Conforme a Copa do Mundo e as Olimpíadas se aproximam, o setor
de construção brasileiro está prestes a sair de sua inesperada queda de faturamento, o que pode ser vista pelo seu fraco desempenho, atingindo um
crescimento de apenas 4,2% em 2011 e de 2,2% em 2012.
Esse resultado
está relacionado ao fato de que em maio de 2012 somente 25% dos projetos
de transporte para a Copa haviam completado o processo de licitação; e no
final do mesmo mês, 41% das obras para a Copa do Mundo ainda não haviam sido iniciadas. O setor de construção tem que concluir a construção
de 13 aeroportos, 7 portos e 37 projetos de transporte, e ainda construir ou
reformar 12 estádios para a Copa do Mundo de 2014.
Este setor emprega
2,5 milhões de trabalhadores formais e as estimativas mostram que existem
1,5 milhões de trabalhadores informais. O atraso contribui para o aumento
da taxa de desemprego no Brasil que foi de 5,60% em fevereiro de 2013.
Muitas das empresas envolvidas nos gastos com a infraestrutura da Copa
do Mundo no Brasil são sociedades fechadas e, portanto, as informações financeiras das empresas não estão prontamente disponíveis. No momento
da composição deste texto a maioria das empresas ainda não havia divulgado
seus Relatórios Anuais de 2013, que poderiam oferecer uma perspectiva diferente ao que está sendo apresentado aqui, pois a posição financeira provavelmente melhorou conforme indicado anteriormente.

O que ficou claro é que parece que o setor está passando por flutuações drásticas em seus lucros líquidos anuais. A Engevix, por
exemplo, divulgou -85% em 2010, porém apontou um aumento de 256%
em 2011. Empresas tais como a OAS Empreendimentos, que tinha um lucro líquido de 2.244% em 2010, teve uma diminuição de 360% em 2011. A
Andrade Gutierrez divulgou um aumento de lucro líquido de 23% em 2010
e de 28% em 2011. Já a Odebrecht divulgou um aumento de 148% em seu
lucro líquido em 2010, o maior lucro de sua história.
As empresas não envolvidas nos projetos de construção da Copa do Mundo são a Santa Barbara
Consortium Construction, da Arena Pantanal, que foi à falência, e a Delta
Construction, que participou da construção do estádio do Maracanã, porém
um Comitê do Congresso descobriu que ela estava envolvida em subornos
feitos a políticos e outros agentes públicos.

Gastos excessivos dos estádios brasileiros


Construtoras brasileiras e estrangeiras, tais como o escritório de arquitetura alemão GMP, são os principais beneficiários dos gastos com a Copa
do Mundo FIFA 2014 e com a infraestrutura relacionada à Copa, que está
atualmente calculada em U$ 18 bilhões, sendo 78% dos gastos totais provenientes de financiamento público.
De acordo com o ministro dos Esportes do Brasil, o impacto geral econômico superará U$ 100 bilhões, criando 332.000 empregos permanentes
(2009-2014) e 381.000 empregos temporários em 2014.


O fato de que até maio de 2012 apenas 41% das obras para a Copa do
Mundo ainda não tivessem começado
levou o Governo Federal a mudar
seus procedimentos para a aprovação de projetos com um “estatuto de excepcionalidade”, criado para aumentar a velocidade de aprovações para projetos
de infraestrutura da Copa do Mundo 2014. Consequentemente, as empresas de construção usarão de forma oportuna essa situação a seu favor para fixar
os custos das licitações oficiais acima do seu valor, resultando em gastos excessivos que terão de ser pagos pelo governo brasileiro com fundos públicos.
A Andrade Gutierrez está envolvida na construção do Estádio Nacional
Mané Garrincha (Brasília), da Arena Amazonas (Manaus), do Estádio Beira–Rio (Porto Alegre) e do Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro). A Odebrecht
na construção do Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro), do Estádio da Fonte
Nova (Salvador), da Arena Pernambuco (Recife) e do Itaquerão (São Paulo).
As duas empresas são responsáveis por 7 dos 12 estádios da Copa do Mundo.
Embora tenhamos usado fontes confiáveis para obter os custos dos estádios, os números podem variar ou serem inconsistentes. A fonte mais confiável para as estimativas originais de custo de cada um dos estádios está no
Brazil 2014 Bid Book. Porém, o Brazil 2014 FIFA World Cup Bid Book não é
divulgado publicamente (assim como todos os bid books), não sendo então
possível consultar os custos originais para cada estádio. No entanto, é razoável supor que já que o Brazil Bid Book foi enviado à FIFA até 31 de julho de
2007 e que a Equipe de Inspeção da FIFA realizou a visita de inspeção em 23
de agosto de 2007, o valor constante neste relatório de U$ 1,1 bilhões para
todos os estádios reflete os números originais do Bid Book.

Rumo a uma investigação sobre cartel no setor de construção


Em agosto de 2013, o Congresso Brasileiro propôs a criação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os gastos excessivos com os estádios e as alegações de corrupção. O pedido de investigação
veio do “senador Álvaro Dias, do principal partido de oposição, o PSDB,
que inicialmente solicitou a investigação”
como resposta às exigências dos
manifestantes brasileiros nas ruas.
Acreditamos que há motivos suficientes para o governo brasileiro abrir
uma investigação completa sobre as operações de um cartel de construção;
o Relatório do Comitê de Concorrência da OCDE, a evidência irrefutável
do Relatório da Comissão de Concorrência da África do Sul, especialmente
em relação à Copa do Mundo FIFA 2010, e os aumentos abusivos de custos
dos estádios do Brasil quando comparados com o Relatório da Equipe de
Inspeção da FIFA de 2007.
Ainda mais uma motivação para a necessidade de tal investigação é a
recente decisão por parte do estado de São Paulo de “abrir um processo contra a Siemens AG (SI) para tentar recuperar o dinheiro que a empresa supostamente superfaturou do Estado pelos trens vendidos por um consórcio
para a cidade e redes de transporte regionais”.
Neste último caso, deverão
demonstrar a necessidade de garantir que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), envolvido na investigação da Siemens, estenda sua
investigação ao setor de construção. Tal investigação sobre os negócios do
cartel de construção não deve se limitar às empresas brasileiras, mas deve,
também, se estender às empresas internacionais envolvidas em atividades de
construção civil relacionadas.
Por fim, é necessário que o governo brasileiro responda aos apelos da
sociedade civil por mais transparência na prestação de contas e nos assuntos
relacionados à Copa do Mundo FIFA 2014 e que divulgue publicamente o
Bid Book brasileiro oficial.

Sumário

Introdução
Eddie Cottle

1 FIFA e o complexo desportivo de acumulação

Dale T. McKinley

2 Promessas econômicas e armadilhas da Copa do Mundo da
África do Sul

Patrick Bond e Eddie Cottle

3 O caneco deles transbordou – Empresas de construção e a Copa
do Mundo da FIFA de 2010

Michelle Taal

4 Chutando no próprio gol? – A greve dos operários da Copa do
Mundo de 2010

Eddie Cottle

5 O legado dos sindicatos da Copa do Mundo 2010
– a solidariedade internacional revitalizada

Vasco Pedrina e Joachim Merz

6 Comércio informal e a batalha pelos negócios

Pat Horn

7 Mentiras, deturpação e expectativas não alcançadas – Exploração
sexual e a Copa do Mundo de Futebol de 2010

Vivienne Mentor-Lalu

8 O greenwashing da FIFA – A Copa do Mundo e o Aquecimento
Global

Trsiten Taylor

9 Soccer City – Quem bebeu toda a cerveja da cabaça?

Mondli Hlatshwayo

10 Green Point Stadium – O Legado FIFA do jogo desleal

Mondli Hlatshwayo e Michael Blake

11 Contando vantagem – Dissecação da lenda urbana do legado de
desenvolvimento do Moses Mabhida Stadium de Durban
Aisha Bahadur

12 Mbombela – Corrupção, assassinato, falsas promessas e
resistência

Dale T. McKinley (com o African Eye News Service)

13 Construindo Coliseus, vivendo em barracos – Operários
na sombra da cidade mundial

Tony Roshan Samara

Colaboradores

Apresentação

Paulo Capela
Elaine Tavares
Diretores do IELA

Após a leitura desse livro não será mais possível alegar ignorância sobre
os fatos e os interesses econômicos que envolvem os bastidores dos megaeventos esportivos, caracterizados por serem um grande negócio e peça da
maquinaria que produz a modernização conservadora e o subdesenvolvi-mento nas nações periféricas do planeta.
A tradução para a língua portuguesa do livro – South Africa’s World Cup:
a legacy for whom?
– viabilizada pelo IELA – Instituto de Estudos Latino-Americanos desde um de seus núcleos de pesquisa, o Vitral Latino-Americano de
Educação Física, Esportes e Saúde da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, inaugura a parceria do nosso Instituto com nobres e qualificados
pesquisadores, ativistas culturais, líderes políticos partidários, sindicalistas e
intelectuais pesquisadores do continente africano, rompendo assim com a
arrogância e o determinismo do pensamento único eurocêntrico e estadunidense que coloniza a América Latina por séculos.
Já há inúmeros fatos que evidenciam atos de corrupção no Brasil semelhantes aos que têm sido historicamente praticados em outros países do
mundo e que os autores dessa obra explicitaram de forma magistral, desvelando aos leitores as estratégias utilizadas e as nefastas consequências produzidas pela “forma negócio” do futebol, praticada pela FIFA, e que tanto mal
produziu na vida do povo africano durante a realização da Copa FIFA/ 2010
naquele continente.
Mais do que desvelar, anunciar, resistir, denunciar, essa obra estimula a
organização popular daqui e de lá para exigir reparação pelas injustiças cometidas e punição aos inimigos do povo.
Entendemos que obras como essa que agora vem a lume ajuda, sobremaneira, a provocar o debate com os povos de todo o planeta e orienta outros
horizontes para a efetivação das práticas corporais olímpicas e para a promoção da unidade planetária através do futebol, principal prática esportiva da
civilização contemporânea.

Pensamos ser fundamental a união em escala mundial para afirmar que
já existe acúmulo científico suficiente para produzir encontros esportivos,
inclusive os de futebol, entre os povos do mundo. Mas, as propostas que
deveriam permear esses eventos teriam de ter o compromisso de preservar a
saúde dos atletas, a vida e as identidades nacionais populares dos povos. Assim, poderiam servir efetivamente de exemplo a tantos meninos e meninas
que, nessas ocasiões, se espelham nos atletas. Daí a necessidade de serem
práticas pautadas na vida, na cooperação, na fraternidade e na paz entre os
povos. Mas, não é isso o que se vê.

Queremos que, através da parceria afro-brasileira, iniciada durante a
IX edição das Jornadas Bolivarianas, realizada em abril de 2013 na UFSC,
principal evento científico do IELA, cresça um clamor latino-americano e
planetário articulando os grupos críticos em um movimento pela extinção dessa
forma de promover a integração das populações mundiais via esportes-mercadoria,

sob o domínio e coordenação da FIFA, do COI e de suas afiliadas em territórios nacionais de todos os países. Assim, poderia ser gerada uma teia de agências interligadas para replicar os interesses antipopulares transnacionais em
territórios nacionais que seguem produzindo práticas e gostos pelos esportes
e lazer capitalista, antivida e promotoras do subdesenvolvimento econômico
das nações. ,br.
Desta forma, brindamos a efetivação de mais um trabalho do Instituto
de Estudos Latino-Americanos capaz de favorecer a compreensão das práticas capitalistas necrófilas em seus variados campos da cultura humana, que,
no caso em tela, debruça-se sobre a forma de apropriação capitalista do futebol, tornando-o um grande negócio a serviço de poucos.

As energias que alimentam nossas ações e publicações emanam de todos
os amigos da vida, de todos os que atuam em prol do desenvolvimento de
toda a vida planetária, cujo êxito só será atingido com muita coragem, luta,
cooperação e amor, na ação conjunta de superação do capitalismo.

Agradecemos, então, a todos os que com seu trabalho contribuíram
para a efetivação desse livro, publicado pelo IELA/Vitral em parceria com
a Editora Insular, em especial aos colegas sul-africanos, valorosos lutadores
populares, escritores e pesquisadores orgânicos das lutas dos povos. E, de
forma especial, nosso agradecimento a Eddie Cottle por organizar originalmente essa obra e a sua editora africana por nos ceder os direitos de
tradução para a língua portuguesa, disso que é, enfim, o resultado da luta
dos trabalhadores.

Prefácio à edição sul-africana

Crecentia Mofokeng
Representante Regional da Building and Wood
Workers’ International(BWI), África e Oriente Médio

Este livro é o resultado de três anos de empenho, colaboração, pesquisa e luta para melhorar as condições dos operários antes, durante e
após a Copa do Mundo da Federação Internacional de Futebol Associado
(FIFA – Fédération Internationale de Football Association) 2010. O que começou
como uma tentativa de documentar as batalhas dos operários da construção
transformou-se em um projeto muito maior quando ficou evidente que
o desenvolvimento de um megaprojeto através do esporte é algo muito
mais complexo. Em 2006 a Building and Wood Workers’ International(BWI)
(Organização Internacional dos Trabalhadores da Construção Civil e Madeira) formou uma parceria com o Labour Research Service(LRS) (Serviço
de Pesquisa do Trabalho) para dar suporte à campanha “Trabalho Decente
para e muito além de 2010”, usando a oportunidade da Copa do Mundo de
2010 para promover condições de trabalho decente no setor de construção
na África do Sul.
Depois que a LRS analisou o impacto de megaeventos de esporte
nas condições dos operários, várias novas ideias e perspectivas surgiram.
A pesquisa inicialmente pretendia informar a reação dos operários e dos
sindicatos na batalha para melhorar as condições dos trabalhadores, mas
logo ficou claro que isso não seria possível sem que víssemos o espetáculo
esportivo como um todo e o papel da FIFA na globalização do capitalismo e
na acumulação. Além disso, o Global Wage Report da International Labour Organization (ILO) (Relatório sobre Salários da Organização Internacional do
Trabalho Global) mostra que a participação dos operários na riqueza caiu
significativamente sob a globalização neoliberal e que a desigualdade mundial aumentou. A pergunta que buscamos responder é a Copa do Mundo
de 2010 produziria algo diferente além do que estava sendo suposto por
seus organizadores, pelo governo da África do Sul, pelos organizadores
municipais e pela mídia? Em outras palavras, os benefícios prometidos
sobre o evento alcançam os sul-africanos comuns e os trabalhadores em
especial?
Havia pouca informação disponível sobre o que realmente acontece
com os operários, além das promessas e reivindicações generalizadas sobre
o legado duradouro do evento, pois a maioria dos estudos (até mesmo as
colaborações mais importantes) é meramente focada nos legados de infra-estrutura econômica e urbana. Além disso, observando que a FIFA estava
vinculada ao capital transnacional e que a Copa do Mundo era a sua raison
d’être
, a alegação da FIFA de que ela era uma organização beneficente teve
de ser questionada, pois ela sempre relutava em se envolver nas questões
que confrontavam os trabalhadores, argumentando que a FIFA não era o
empregador. Sem contar que a organização exige milhares de concessões e
garantias dos governos, capta e controla o comércio através dos direitos de
propriedade intelectual e várias outras disposições.
Este livro oferece uma análise geral e crítica do impacto de megaeventos esportivos, tais como a Copa do Mundo da FIFA, e o paradigma
desenvolvimentista associado a ele. Também desafia todos os estudos já
conhecidos e aqueles que idolatram a FIFA ao fornecer análises rigorosas e
evidências concretas sobre o que era na verdade um evento esportivo espetacular destinado à acumulação maciça e à extração de riqueza da África do
Sul, e contradiz as promessas de desenvolvimento e supostas perspectivas
futuras para o crescimento econômico compartilhado.
De várias formas este livro relança um debate necessário sobre os paradigmas do desenvolvimento que tem sido dominado e engolido pela hegemonia da ideologia neoliberal. É uma intervenção oportuna no desenvolvimento e no ressurgimento de um discurso esquerdista sobre o impacto
de megaeventos esportivos, que se tornaram parte do ciclo “natural” de
quatro anos neste período de globalização capitalista e o qual trouxe mais
mudanças de desigualdade para a economia mundial, seus cidadãos e o
meio ambiente. Esperamos que as lições aprendidas na África do Sul possam ser compartilhadas com os trabalhadores envolvidos nas preparações
do Campeonato Europeu de Futebol da União das Federações Europeias
de Futebol (UEFA – Union of European Football Associations) na Ucrânia e
na Polônia em 2012 e a Copa do Mundo no Brasil em 2014, entre outros
megaeventos programados para o futuro próximo.


Organizadores

Eddie Cottle – organizador deste livro, é representante oficial de campanhas e políticas da Building and Wood Workers’International (BWI).

Paulo Capela – professor do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa
Catarina, atual Coordenador do Vitral Latino-Americano de Educação Física, Esportes
e Saúde e ex-presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos, ambos da UFSC.

André Furlan Meirinho – MBA em Desenvolvimento Regional Sustentável pela UNB,
mestrando em Planejamento e Desenvolvimento Territorial Sócio-Ambiental na
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

Informação adicional

Peso 750,00 g
Dimensões 16 × 23 cm

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