Testemunhos do sofrimento nas narrativas telejornalísticas

Descrição

Autor: Leandro Rodrigues Lage

ISBN: 978-85-524-0105-6
Páginas:270 il.
Peso: 348g
Ano: 2018

Este livro é resultante da persistência em buscar uma dimensão potencialmente política nos testemunhos que acompanhamos diariamente, por meio das narrativas midiáticas. Mas não por mero fascínio com essa abordagem. E sim pela evidente capacidade que o testemunho tem de nos confrontar com “submundos” e, no limite, fazer-nos vê-los como submundos, mundos anexados aos nossos, contíguos e, ao mesmo tempo, adjacentes. O que poderia haver de político nas falas dos usuários de crack? No compartilhar de seus sofrimentos e aventuras? Nas imagens que consumimos rotineiramente desses sujeitos em condições claras de vulnerabilidade? Na exposição muitas vezes desautorizada de seus corpos? O enredo de cada uma das narrativas parece exatamente levar ao caminho oposto: o autoabandono, a autodestruição, a repetição de discursos prontos, a assunção de identidades pré-determinadas, as falas reduzidas à queixa e à lamentação, ruídos, os corpos reduzidos a objetos de uma contemplação invasiva, enojada, a completa desvalorização e invisibilidade de vidas das quais se pode dispor, as quais podem dispor de si mesmas. Entretanto, se a política não é feita apenas de relações de poder, mas de relações de mundos, então o que está em questão é justamente a capacidade que o testemunho tem de trazer à luz falas que se produzem contra todas as probabilidades, corpos no limite de uma decomposição autoinfligida, mundos dissipados na neblina do “fundo noturno do social”, como dizia Michel de Certeau, e habitados por vidas que nem ao menos se reconhecem como tal. Vidas mortas que esqueceram de deitar. Ou mortos-vivos muitas vezes mostrados como se fossem indignos de viver ou de serem pranteados. Trata-se, portanto, de uma aposta em ver nesses sujeitos, falas, corpos e testemunhos os signos da politicidade.

Leandro Rodrigues Lage é doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e vencedor do Prêmio Adelmo Genro Filho de Melhor Tese (2017), promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). É mestre em Comunicação pela UFMG e possui especialização em Comunicação: Imagens e Culturas Midiáticas pela mesma instituição. É professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura (PPGCLC) da Universidade da Amazônia (Unama).
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O potencial político do testemunho já não diz respeito apenas à sua capacidade de ensejar ações políticas capazes de mudar a realidade por ele retratada, ou somente às possibilidades de alimentar com argumentos a discussão pública em torno de problemas sociais, ou ao encontro solidário de cidadãos com sujeitos excluídos. A dimensão política do testemunho parece residir, enquanto potência, na possibilidade de abertura de mundos e de reformulação da medida do comum produzida pelo encontro assimétrico entre ordens sensíveis, tornado possível pelo engajamento discursivo, corpóreo, visual, auditivo e afetivo das testemunhas − na, pela e através da comunicação midiática.