Descrição
Autor: Nelson Traquina
ISBN: 978-65-86428-17-9
Ano: 2020
Neste estudo, o nosso objetivo é o de atingir uma melhor compreensão teórica das notícias.
Ao longo dos últimos cinquenta anos, as diversas teorias da notícia que foram avançadas (ver Traquina, 2001) ilustram bem a complexidade e oferecem diversas explicações que, apesar de cada teoria ter os seus destaques, apontam para uma série de fatores como o tempo, os constrangimentos organizacionais, as rotinas instituídas, e o crescente peso do fator econômico, ou, para ser mais preciso, o “polo” econômico do campo jornalístico, para mencionar as principais forças que ajudam a construir o produto jornalístico. Mas, com base numa análise crítica da vasta literatura de estudos sobre o jornalismo, é indubitavelmente claro que não é possível compreender as notícias sem uma compreensão da cultura dos profissionais que dedicam as suas horas e, às vezes, as suas vidas, a esta atividade.
Este trabalho persegue duas linhas de atuação: a consolidação teórica e a exploração teórica, mas esta última será a privilegiada. Através da consolidação da teoria, é nossa intenção testar as conclusões principais da já vasta literatura de “newsmaking” que se acumulou durante os últimos cinquenta anos. Por exemplo, serão examinadas algumas questões básicas. Primeiro, serão as notícias “orientadas para o acontecimento”, ao invés de “orientadas para o tema”, como sugerem fortemente inúmeros estudos do jornalismo? Em segundo lugar, será a proximidade, seja ela geográfica ou cultural, um fator determinante nas seleções do que é ou não notícia? Em terceiro lugar, serão as notícias orientadas principalmente para as “fontes oficiais”, com pouco espaço para as vozes alternativas na sociedade?
Como ficou explicitado, a sociologia do jornalismo aponta claramente para a tese de que a compreensão das notícias implica um conhecimento da cultura jornalística. Dito doutra maneira, não é possível compreender porque é que as notícias são como são sem uma compreensão dos profissionais que são os “agentes especializados” do campo jornalístico (Bourdieu, 1998). Este pressuposto teórico explica o foco central da nossa atuação ligada à exploração teórica. Através da exploração teórica, iremos tentar aprofundar os nossos conhecimentos dos jornalistas como uma “comunidade interpretativa” (Zelizer, 1993), conceito que defende que os jornalistas partilham “quadros de referência comuns”. Seguindo uma linha de pensamento sugerida por autores como Pierre Bourdieu, queremos definir melhor as características destes “agentes especializados”, os “contornos” do seu “microcosmos”, os traços fundamentais da sua cultura profissional. Será possível identificar valores noticiosos chave do “prisma” jornalístico, que operam na cobertura noticiosa? Indo mais longe, pretendemos testar a hipótese de os jornalistas constituírem uma “comunidade interpretativa” transnacional, seguindo neste caminho com uma análise comparativa de uma problemática social, a AIDS. Serão partilhados valores semelhantes pelos jornalistas dos quatro países do estudo de caso, Portugal, Espanha, Estados Unidos e Brasil?
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