RETÓRICA E MÍDIA: Estudos ibero-brasileiros

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Categoria: SKU: 978-85-7474-454-4

Descrição

Organizadores: Fernanda Lima Lopes/ Igor Sacramento

ISBN: 978-85-7474-454-4

Páginas 352 il.

Peso: 565g

Ano: 2009

É inegável, em nossos dias, a mobilização cada vez maior da competência retórica dos sujeitos, nas diversas práticas sociais que se lhes apresentam na vida cotidiana. Dela somos dependentes, desde situações corriqueiras aos atos mais formais, exigidos pelas instituições que compõem a sociedade.
Vê-se avultar, assim, a preocupação com o estudo da Retórica, tanto do ponto de vista teórico – constituindo uma teoria do discurso – como no domínio prático, com o estudo de suas técnicas, uma vez que ela atende a esses dois enfoques. Pode-se mesmo dizer que o emprego do termo retórica, em nossos dias, vai assumindo o equivalente ao de discurso, ou seja, voltando ao primitivo sentido de discurso integral, tal como postulado por Aristóteles, o grande sistematizador dessa disciplina.
Sabe-se que a trajetória da Retórica, ao longo da História, passou por altos e baixos, teve dias de esplendor e de esquecimento, em virtude das diferentes formas de valoração e de pontos de vista a que as linguagens eram submetidas. Uma das tarefas a serem empreendidas hoje é exatamente a de compreender a natureza e o estatuto da Retórica dentro das Ciências Humanas, assim como o de deslindar o seu alcance na rede de meios de comunicação, cada vez mais complexa, que caracteriza os nossos tempos.
Estamos, cada vez mais, diante de sujeitos que reagem e que se posicionam perante os fatos, as decisões e diretrizes. Falar, portanto, em sujeito retórico é falar de um sujeito cuja atitude revela uma natureza político-social de envolvimento com o mundo em que vive. Assim colocada, a persuasão, alvo de toda argumentação, incita a agir, à mudança, em última análise, e a retórica aqui aparece como bem distante do sentido puramente ornamental que lhe fora atribuído pelos que relutavam em reconhecer a sua natureza original.
Foi esse um dos grandes aportes das Neo-Retóricas, – compreendendo-se aqui os diversos enfoques e tendências –, quais sejam, o de reexaminar os princípios clássicos da Retórica e o de fazer avanços com novas proposições, adaptadas aos nossos dias. Reconhece-se, como ponto comum entre todas elas, que o espaço retórico é o domínio do relativo, da inevitabilidade do ponto de vista, daquilo que é plausível e, portanto, passível de argumentação. Trata-se, portanto, de um espaço tensivo, lugar da controvérsia e do confronto mas, por outro lado, o do acordo, do contrato, da negociação para chegar a um possível consenso. A questão da legitimidade torna-se fundamental quando atribuída pelo consenso e aceita por todos. É nesse potencial que reside a mola da dinâmica criativa e inventiva, própria da atividade retórica.
A presente obra coletiva visa, pois, a colocar na ordem do dia as ideias a esse respeito e a descrever e analisar algumas práticas comunicativas, segundo a sua construção retórica e os princípios que as regem. As matérias foram distribuídas em três partes, que constituem o eixo do trabalho.
Na parte 1, os Fundamentos da Retórica: estudos de questões teóricas tais como as de sua natureza, função e categorias, consideradas pontos básicos dessa disciplina, em todas as épocas, de suas origens ao reexame atual. Na parte 2, A retórica midiatizada: exame de diferentes esferas de práticas socioculturais de relevo na sociedade tecnológica de nossos dias: o discurso publicitário, o político, o da internet. Trata-se de avaliar o sistema retórico midiatizado e suas implicações, considerando-se os deslocamentos, os simulacros, o espaço virtual, as relações de poder estabelecidas, enfim, as coerções de toda ordem. Na parte 3, A retórica jornalística: análise das características específicas do jornalismo, como o delineamento do novo público e a interatividade, a preocupação com a própria imagem do jornal e a questão da credibilidade, a opinião como domínio do plausível e a consideração da intersubjetividade resultante.
O objetivo que une os constituintes da presente obra é o de possibilitar a reflexão sobre a própria retórica. O conteúdo de cada uma das matérias que compõem a sua estrutura é descrito pelos seus organizadores, Igor Sacramento e Fernanda Lima Lopes, ambos da ECO/UFRJ, em sua Apresentação. Cabe dizer que a feliz iniciativa da produção de um trabalho dessa natureza constitui excelente oportunidade para trazer ao conhecimento do leitor o quanto se tem feito no domínio da Retórica, podendo dar alento a muitas outras pesquisas. Esse campo fértil de investigação, cuja ênfase recai na argumentação e nos procedimentos persuasivos que a secundam e reforçam, tem dado origem a inúmeros trabalhos de Mestrado e teses de Doutorado e auguramos que muitos outros estejam por vir.
Esperamos que este livro seja inspiração para o cultivo de um espaço democrático de discurso, dentro do melhor espírito de cidadania responsável. Nele, autores ibéricos e brasileiros unem seus saberes, suas convicções e compartilham suas diferenças, no respeito mútuo que o ato de argumentar implica. Forma-se, assim, uma comunidade argumentativa, que é ao mesmo tempo afetiva, dados os laços que de longa data nos unem.

Lineide Salvador Mosca
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo

Autores (as)

Afonso de Albuquerque
António Fidalgo
Antonio López Eire
Carla Bahiense Félix
David Pujante
Fernanda Lima Lopes
Francisco Arenas-Dolz
Igor Sacramento
Ivo José Dittrich
Ivone Ferreira
José Augusto Mourão
Márcio Castilho
Marco Antonio Roxo da Silva
Maria del Carmen Ruiz de la Cierva
Maria Del Mar Gomez Cervantes
Milton José Pinto
Mônica Machado
Sérgio Roberto Trein
Tito Cardoso e Cunha
Tomás Albaladejo
Yvana Fechine

Rheim, verbo grego de onde procede retórica, quer dizer propriamente escorrer, deslizar. Na fala, as palavras escorrem pela boca profusamente, às vezes em catarata, a exemplo do descontrole que hoje se conhece como “logorréia”. Rhetor, antes de significar “orador em espaço público” ou “autor de uma lei”, é simplesmente aquele que fala. Mas retórica, desde suas origens na Antiguidade grega, é uma técnica de controle de linguagem. É uma busca de regras e de efeitos específicos. Nela deveria predominar não o discurso do poder, mas o poder do discurso. Que nunca foi nem é neutro, inocente. Não brilhavam à toa os oradores ou sofistas que, desde o início do século V antes de Cristo, galvanizavam seus ouvintes na cena pública ateniense.
Daí, a má fama que se colou à retórica ao longo dos séculos, como se não passasse de uma arte de afetação artificiosa dos modos de expressão. Perigosa, proscrita, clandestina, a retórica atravessou incólume o vasto espectro do vilipêndio. Dela Platão desconfiou, certo, mas deixando claro que existia uma “boa retórica”, ou seja, a dialética. Na modernidade, os astutos jesuítas trataram-na como prima dona em seus colégios mundo afora. No vaivém das aceitações e recusas, a retórica volta à cena pública com muita força e um outro nome: comunicação. Como nas origens, trata-se de uso político do discurso, só que agora com tecnologias vertiginosas e o álibi do mercado transnacional. Mídia é o nome que se dá ao complexo maquínico da retórica contemporânea.
Mas pharmakon mata e cura: a técnica encantatória pode ser usada para se fazer a leitura crítica do encanto. Disto bem se deram conta Igor Sacramento e Fernanda Lima Lopes quatro olhos atentos, duas escutas modelares –– ao organizarem este Retórica e Mídia. Periga ser uma das mais interessantes coletâneas sobre mídia que vieram à luz nos últimos tempos.

Muniz Sodré
Escola de Comunicação
da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Informação adicional

Peso 565,00 g
Dimensões 16 × 23 cm

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