Descrição
Autor: Mylton Severiano
Apresentação: Paulo Henrique Amorim
ISBN: 978-85-7474-617-3
Páginas: 320 il.
Peso: 520g
Ano: 2013
Foto de Capa: Luigi Mamprin
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A DITADURA SE FOI DE VEZ?
Há 47 anos, eu estava no Jornal da Tarde, lançado a 4 de janeiro de 1966, de onde me passaria meses depois para REALIDADE, lançada em abril. O JT sacudiu o jornalismo diário, pela diagramação e pela linguagem.
REALIDADE foi mais fundo. Mexeu com as estruturas do “sistema”, desafiou os conservadores, os preconceituosos, quebrou tabus. E em plena ditadura militar.
Neste momento, quase meio século depois, reflito sobre as perguntas que mais me fizeram os estudantes todos esses anos: por que não fazem mais uma revista como REALIDADE?, por que não fazem mais reportagens como aquelas? Muitos abrem a boca de espanto quando digo que é porque a ditadura ainda não acabou. Digo meio de brincadeira, mas leia este livro refletindo comigo: se a ditadura que matou REALIDADE já acabou, então por quê?
O Autor
Apresentação
Uma vez, numa roda de almoço de domingo, Roberto Schwarz observou que uma das circunstâncias espantosas que cercam Machado de Assis é que ele tivesse existido no Rio provinciano, escravocrata, do fim do Século XIX.
Ao ler “Realidade – História da revista que virou lenda”, do Myltainho, pendurou-se no trapézio que tinha na cabeça – já que falamos de Machado – ideia parecida: o que espanta nessa lenda do jornalismo brasileiro é que tenha existido na São Paulo provinciana, escravocrata, sufocada pelo regime militar.
Isso se deve, como diz o autor, à “Grande Banda”, “os loucos de 64”.
E também a um completo irresponsável, o “Seu Victor” Civita, fundador da Abril no Brasil, que, movido pelo instinto animal do empresário, fez a Realidade e, depois, a Veja do Mino Carta.
Depois, baixou a “responsabilidade”: o filho, desde sempre mal intencionado, fechou a Realidade e transformou a Veja no que chamo de “detrito de maré baixa”.
Para quem trabalhou na Realidade (e na Veja do Mino), o que o Myltainho revela como documento valioso é a lucidez do nosso Maestro, o Paulinho Patarra.
As anotações explicitam o dom de planejar, a estratégia, a visão que o Paulo tinha da futura revista, seu espaço no mercado – e especialmente a fórmula editorial.
Paulinho era um profissional !
Ele tinha o pulso do momento e, por isso, convenceu o patrão.
O que a Realidade já nas bancas pôs para fora foi “o sentimento do povo” que o Paulinho carregava no peito.
Trabalhei com poucos profissionais que sentissem o cheiro da galera, como o Paulo.
Um talento.
Mais do que o editor-chefe e, na verdade, chefe de reportagem, o Paulo parecia daqueles políticos que sobem no palanque e dizem o que a massa quer ouvir: “hum, isso aí não interessa a ninguém…”
A Realidade captou aquela ânsia de entender o mundo desorganizado dos anos 60, os costumes, os novos personagens, a miséria que São Paulo desconhecia: uma realidade que soltava um cheiro parecido com o dos mictórios dos bares que nós frequentávamos.
Tudo misturado à intervenção militar.
Já sei que o Myltainho vai se perguntar, mas, Paco, e o “primeiro violino, o Sergio de Souza ?
Isso mesmo, Myltainho, o Serjão era o “primeiro violino”.
Mas, quem escreveu a partitura foi o Paulo.
O Serjão dava ordem à casa.
Com você.
Você, na verdade, Myltainho, incentivava a desordem.
Como a de dois alucinados jovens repórteres que o só o Paulo ousaria contratar: o Tonho, que era o Haf, e o Paco Maluco, o Perigoso, hoje mais conhecido como …
Paulo Henrique Amorim
O Autor:
Mylton Severiano, paulista de Marília, onde concluiu o ensino médio e um curso de música de seis anos, passou por inúmeras redações de jornais, revistas e telejornais, antes de se tornar free-lancer e dedicar-se a criar peças para campanhas eleitorais e a escrever livros. Publicou, entre outros, Se Liga! – O livro das drogas (Record) e a biografia Paixão de João Antônio (Casa Amarela) e Nascidos para perder – história do Estadão (Insular).
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