O colapso do figurino francês: Crítica às ciências sociais no Brasil – 5ª edição

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Descrição

Autor: Nildo Ouriques

ISBN: 978-85-524-0328-9
Páginas: 208
Peso: 280g
Ano: 2023
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O bloqueio político e intelectual imposto à teoria marxista da dependência no Brasil tem dois pilares: a correlação de forças existentes na sociedade e o colonialismo intelectual predominante nas universidades. Neste ambiente podemos observar o “figurino francês”, comportamento muito frequente em certos círculos acadêmicos que se pretendem progressistas e vivem de mastigar e reproduzir, deslumbradamente, a teoria da moda nos Estados Unidos ou Europa – como se, de fato, tivessem encontrado a pedra filosofal para a solução dos problemas inerentes ao capitalismo dependente latino-americano. Tal comportamento serve para legitimar o perigoso consenso petista-tucano, segundo o qual o Brasil “já não seria mais subdesenvolvido, apenas injusto”, mas é incapaz de encontrar solução para a dependência econômica da América Latina,  fonte real dos nossos problemas. Romper com a teoria liberal, compartilhada pelo consórcio “petucano” e ultra conveniente à classe dominante, é tarefa política e intelectual prioritária.
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Os ensaios aqui reunidos analisam, desde uma perspectiva crítica, as razões pelas quais a universidade brasileira jamais discutiu seriamente o programa de pesquisa sobre subdesenvolvimento e a dependência, o principal aporte do pensamento crítico latino-americano às ciências sociais. A apologia do capitalismo dependente no Brasil apareceu nos estudos sobre “capitalismo tardio” e gozou de certo prestígio, a despeito das evidentes debilidades, tanto na história quanto na teoria. Em oposição aos apologéticos, surgiu a versão progressista que jamais conseguiu superar o horizonte limitado de uma suposta “integração não subordinada à economia mundial”, como se tal fenômeno fosse realmente possível nos marcos de uma economia capitalista cindida entre países centrais e periféricos.
As duas perspectivas são aparentemente opostas, mas representam caminhos pelos quais os acadêmicos combateram, no meio universitário – com certa influência nos sindicatos e partidos de esquerda -, a teoria marxista da dependência. No conjunto, a situação revela a hegemonia liberal que finalmente se impôs na esquerda nascida do duro combate à ditadura. A despeito da linguagem em alguma medida radical da esquerda nos anos 80, a verdade é que tanto a social-democracia tucana quanto o radicalismo operário petista compartilhavam a mesma perspectiva teórica na interpretação do capitalismo e, em consequência, aceitavam os limites do liberalismo no país.
O bloqueio político e intelectual imposto à teoria marxista da dependência representa, por um lado, determinada correlação de forças existente na sociedade brasileira e, por outro, a força do colonialismo intelectual, mais precisamente o fenômeno que denominei “o figurino francês”, ou seja, aquele comportamento muito frequente nas universidades e em certos círculos acadêmicos sempre dedicados à busca da “novidade teórica”” europeia ou estadunidense como se de fato tivessem encontrado a pedra filosofal para a solução dos problemas inerentes ao capitalismo dependente latino-americano.
No entanto, apesar do colonialismo cultural e científico que organiza a vida universitária no Brasil, é possível perceber um novo horizonte para a disputa teórica e política. O perigoso consenso, segundo o qual o Brasil “já não seria mais subdesenvolvido, mas apenas injusto” – na versão apologética do petismo, o país estaria diante da ascensão de uma nova classe média -, revela-se incapaz de encontrar solução para os males inerentes ao capitalismo dependente, como a superexploração da força  de trabalho e a permanente transferência de valor para os centros metropolitanos. Em consequência, precisamente quando petistas e tucanos coincidem nos limites do liberalismo conveniente à classe dominante, círculos cada vez mais expressivos de estudantes e importantes grupos políticos retomam a perspectiva da teoria marxista da dependência e novamente alimentam os estudos sobre o programa da revolução brasileira.
A revitalização de uma perspectiva crítica no interior das ciências sociais será tão lenta quanto inexorável. A ideologia segundo a qual as transformações do capitalismo contemporâneo eliminaram as diferenças entre os países centrais e os dependentes e, em consequência, cancelaram a necessidade da reflexão crítica sobre a especificidade latino-americana no interior da totalidade capitalista, não resistiu à prova do tempo. Não haverá reconstrução do radicalismo político no país sem a recuperação da tradição crítica aqui reivindicada, da mesma forma que não poderá existir uma nova práxis política sem o apoio desta potente perspectiva teórica.

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Nildo Ouriques (Joaçaba, 1959) é um dos mais importantes e combativos militantes da causa socialista e da unidade latino-americana. Sua trincheira é o Instituto de Estudos Latino-Americanos – o IELA – na Universidade Federal de Santa Catarina, onde leciona Economia e Relações Internacionais. Suas temáticas principais são a dependência e o subdesenvolvimento na América Latina, a integração latino-americana e as transformações do capitalismo contemporâneo, as relações entre dependência e imperialismo e marxismo e nacionalismo, sempre na perspectiva da teoria marxista da dependência e do pensamento crítico latino-americano.
Possui doutorado em Economia pela Universidade Nacional Autônoma do México, pós-doutorado pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e é professor do Programa de Doutorado em Desenvolvimento Econômico da Benemérita Universidade Autônoma de Puebla (México).
Como presidente do IELA destaca-se por sua intensa e comprometida ação na publicação de livros, realização de eventos, seminários e debates, na divulgação de informações sobre a América Latina junto aos movimentos sociais, sindicatos e órgãos governamentais.
Dirige a Coleção Pátria Grande, Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano, em coedição do IELA e Editora Insular, pela qual se divulga autores clássicos da sociologia, economia, política, história e antropologia latino-americana, praticamente excluídos do mercado editorial ou nunca publicados em nosso país.

Promove com o IELA as Jornadas Bolivarianas, que são encontros anuais já consagrados e dedicados à avaliação crítica da vida política, econômica e cultural dos países latino-americanos, a enunciar e difundir análises destinadas a sobrepujar os princípios estruturais que perpetuam a dependência e o subdesenvolvimento em nosso continente.
Em sua vigorosa atividade capacitou-se na Divisão de Pesquisa do Banco Central da Venezuela e já ministrou cursos sobre o pensamento crítico latino-americano na Universidade Nacional de Tucumán (Argentina), Universidade Bolivariana (Venezuela), Universidade de Padova (Itália) e várias universidades brasileiras.

Informação adicional

Peso 380 g
Dimensões 15 × 21 cm

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