Descrição
Autores: Neno Brazil, Péricles Prade e Jayro Schmidt
Ilustrações: George Peixoto
Edição bilíngue Português/inglês
ISBN: 978-85-524-0431-6
Páginas: 170 il.
Peso: 1.100kg
Ano: 2024
22x30cm
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Um ser humano exemplar
George Alberto Peixoto, além de suas reconhecidas qualidades de artista plástico, artista gráfico e publicitário, é também uma peça rara como figura humana. Basta dizer que somos amigos há mais de… (não espalhem!) meio século e nunca tivemos o menor atrito, o menor desentendimento. Isso não é só comigo, mas com todos aqueles que convivem ou conviveram com ele em locais de ensino e trabalho e nos mais diversos ambientes. Pois jamais conheci alguém que não apreciasse o seu jeito bem-humorado, afável e comunicativo.
Tendo recebido na pia batismal, em 1939, o aristocrático nome de George Alberto (influência da monarquia inglesa, decerto), passou a ser mais conhecido desde a adolescência pelo “plebeu” apelido de Picolé, devido a sua respeitável altura e ao porte esguio. E desde a infância gostava de garatujar e desenhar todo papel e parede branca que via pela frente.
Ainda garoto, começou também a mostrar aptidão para os esportes e, entre catorze e quinze anos, já passando de 1,85 m, começou a se destacar como excelente jogador de basquete. E ficou “famosinho” nas rodas do esporte amador da Floripa do final dos anos 1950, participando das equipes dos clubes Lira e 12 de Agosto e também da seleção citadina, que participava de campeonatos no interior do estado.
No mesmo período, chamava a atenção pela boa aparência e pelo capricho no trajar. Não foi por outro motivo que o mais renomado colunista social da época, Zury Machado, o escolheu como um dos “jovens mais elegantes” da cidade. Exibia, ainda, um alentado topete, ao estilo de Tony Curtis e Rock Hudson, os ídolos das sessões vespertinas de cinema da então provinciana capital. Nem é preciso dizer que fazia também um tremendo sucesso com as moças em flor, que frequentavam os bailes dos clubes de elite e as festas do Querência Palace Hotel. Mas, segundo confessava, não se considerava um grande namorador.
Em momentos de recolhimento, porém, desenhava bastante e iniciou suas primeiras incursões pela pintura a óleo. Eram geralmente quadros melancólicos e sombrios, influenciados por Van Gogh e pelos pintores expressionistas, que ele só mostrava a familiares e pessoas íntimas. Temperamento multifacetado, relacionava-se ainda com poetas como Pedro Garcia (seu amigo de infância e juventude) e Rodrigo de Haro (já despontando também como excepcional artista plástico), além de outros nomes da cultura ilhoa daquela época, que era bastante fervilhante, aliás.
Em 1959, cismou de estudar em Porto Alegre. Quando retornou, um ano depois, apresentava uma nova aparência, inspirado na nouvelle vague francesa. O topete foi substituído por um corte de cabelo curtinho e os seus ternos passaram a ser justos, com os paletós quase na cintura. Foi só o que bastou para as vozes fofoqueiras propalarem: “Picolé virou a mão em Porto Alegre.”
A partir do início dos anos 1960, os nossos laços de amizade estreitaram-se. Formamo-nos juntos no Clássico do Instituto Estadual de Educação (completando o ensino secundário) e, em seguida, fomos aprovados no vestibular da Faculdade de Direito (ainda não havia a UFSC).
A passagem de Picolé pelos austeros corredores e pelas salas do principal estabelecimento de ensino jurídico do estado, na verdade, só se tornou memorável devido à sua participação na equipe de basquete da Faculdade. De outra parte, ele e as leis nunca tiveram a menor afinidade. Ciente disso, abandonou o curso no segundo ano.
No mesmo período, trabalhamos na rádio Santa Catarina, eu como programador musical e ele como gerente (e depois diretor). E passamos a produzir, semanalmente, um programa cultural chamado “Vitral Sonoro”, no qual, junto com o impecável locutor Fenelon Damiani, líamos poemas e crônicas e apresentávamos música selecionada, de Henry Mancini ao Tamba Trio. Um tanto quanto pretensioso, diga-se de passagem. Foi elogiado por uma elite intelectual, mas a audiência nunca passou de um traço.
Depois disso, os anos avançaram e fomos tratar da vida em outros cenários, de acordo com as nossas tendências, sem que a amizade esmorecesse.
No final da década de 1960, aconteceu um fato fundamental na vida de George Alberto Peixoto: ele ingressou na A.S. Propague, a agência de propaganda pioneira em Santa Catarina, fundada pelos radialistas Antunes Severo e Rozendo Lima em 1962. Lá, ele descobriu e desenvolveu a sua vocação de extraordinário artista gráfico e publicitário. Contratado, de início, como desenhista, não demorou a mostrar outras aptidões, e em 1968 passou a ser diretor de arte e criação.
Mais conhecido no meio publicitário como Peixoto, logo passou a ser um dos pilares da agência, desde os seus primórdios, até a empresa ser apenas Propague (após a saída de Antunes), já sob o comando de Roberto Costa, no início dos anos 1980. Foram inúmeras as campanhas publicitárias consideradas memoráveis que contaram com a criação e a arte de G. Peixoto, a sua assinatura criativa e profissional. Foram também inúmeros os prêmios recebidos por ele ao longo de várias décadas na agência. Notabilizou-se ainda como excelente planejador gráfico de publicações culturais e criador de capas de obras literárias, incluindo a maioria dos meus livros.
No entanto, em 2008, quarenta anos depois de ter iniciado a sua participação na Propague, ele achou que era a hora de parar e dedicar-se somente à sua própria arte.
Nestes últimos 15 anos, mesmo tendo passado por infortúnios pessoais, como a perda da esposa, Graça, George Alberto Peixoto criou e produziu uma coleção invejável de pinturas, desenhos, aquarelas, ilustrações, gravuras, mandalas multicoloridas (uma de suas especialidades), além de uma série intitulada Bichodelic, apresentando felinos reproduzidos em nanquim e cera sobre o papel. E expôs muitas vezes a sua eclética obra, em festivais e vernissages.
Aos 84 anos, a sua chama criativa continua acesa com todo o fulgor.
Raul Caldas Filho Jornalista e escritor
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