Descrição
Organizadores: Gislene Silva, Marcos Paulo da Silva e Mario Luiz Fernandes
ISBN: 978-85-524-0177-3
Páginas: 240 il.
Ano: 2021 (versão digital da edição impressa de 2014)
Este livro, de autoria coletiva, nasce da constatação de que existe no Brasil uma carência de publicações específicas sobre o conceito de noticiabilidade. Uma das concepções mais caras aos estudos teóricos do jornalismo, a ideia da noticiabilidade – ou, mais particularmente, o reconhecimento de que existem parâmetros que levam determinados fatos a receber uma valoração jornalística diferenciada no amplo conjunto dos acontecimentos cotidianos – é muitas vezes abordada de forma descontextualizada da complexidade de sua natureza conceitual. Perguntas-chave que envolvem o assunto passam não raramente despercebidas ou são negligenciadas: o que são critérios de noticiabilidade? Até onde vai seu campo de abrangência?
Quais são suas principais diferenças e aproximações dos chamados valores-notícia?
A escassez de publicações específicas sobre o conceito de noticiabilidade contribui para uma espécie de deriva em que todos – jornalistas e teóricos – parecem saber do que se trata, mas que, ainda assim, raramente há fôlego para sistematizações consistentes sobre o assunto.
No campo acadêmico, muitas vezes o delineamento conceitual que envolve a multiplicidade de vértices da dinâmica de seleção noticiosa não é colocado de forma suficientemente clara e conceitos que se referem a problemáticas semelhantes são tratados equivocadamente como sinônimos.
No campo profissional, por seu turno, a falta de simples reconhecimento das concepções teóricas que compõem o cotidiano da construção da narrativa jornalística é sintomática de um processo mais amplo em que elementos simbólicos – e hegemônicos – são incorporados às rotinas de trabalho sem que sua identificação se torne evidente. Não parece ser mero fruto do acaso, conforme já alertara Nelson Traquina, o fato de que diversos estudos sobre o jornalismo apenas revelam que os profissionais da área têm uma enorme dificuldade em explicar o que é notícia e quais são seus critérios noticiosos para além de respostas vagas do tipo “o que é importante” ou “o que interessa ao público”.
Nesse cenário, o livro pretende contribuir para a diminuição de uma lacuna teórico-conceitual no campo acadêmico do jornalismo no Brasil. Busca-se, no restrospecto da última década, recuperar e agrupar os poucos trabalhos sobre critérios de noticiabilidade encontrados dispersos
poucos trabalhos sobre critérios de noticiabilidade encontrados dispersos ou de modo fragmentário em revisões bibliográficas, reflexões
ensaísticas ou estudos aplicados. Ao mesmo passo, procura-se também introduzir textos mais recentes sobre a matéria.
A coletânea estrutura-se em duas partes que visam sistematizar o conjunto de perspectivas sobre o problema central. A primeira seção
de textos, Questões conceituais, inicia-se com um capítulo de Marcos Paulo da Silva a respeito dos distintos enfoques que pautam historicamente as teorias sobre a noticiabilidade. O mesmo texto lança luz sobre a concepção de desvio, padrão clássico que tem permeado o processo de seleção noticiosa ao menos desde o final do século XVII, quando o erudito alemão Tobias Peucer fez seus primeiros apontamentos sobre a questão. O segundo capítulo, de Josenildo Luiz Guerra, coloca em pauta a concepção de valor-notícia como um parâmetro de relevância utilizado pelos jornalistas na avaliação dos fatos noticiáveis. Em busca de uma definição que não se limite à operacionalidade do conceito, o autor sugere um distanciamento da ideia de critério organizacional, remetendo a um segundo nível de distinção – os chamados valores-notícia “de referência” e os valores-notícia “potenciais”.
Por sua vez, o terceiro capítulo, de autoria de Gislene Silva – reprodução de um dos mais citados textos sobre o assunto no Brasil, de
2005 –, propõe uma sistematização para os critérios de noticiabilidade com base em três diferentes instâncias: a origem, o tratamento e a
visão dos fatos jornalísticos. Com base em demarcações precisas para conceitos que, embora distintos, possuem semelhante pano de fundo
teórico – nominalmente, a noticiabilidade, os valores-notícia e a seleção –, o capítulo propõe uma classificação simplificada para os valores noticiosos de modo a operacionalizar as análises voltadas ao assunto. A mesma demarcação conceitual trabalhada pela autora volta à carga
no quarto capítulo, momento em que Marcos Paulo da Silva, em texto de 2013, retoma o debate sobre a distinção entre as concepções de
noticiabilidade, seleção noticiosa e valor-notícia, recuperando uma tradição teórica que direciona um olhar cognitivo ao primeiro termo.
É também nesse ponto do livro que são novamente debatidas duas das instâncias mais referenciadas quando está em voga a tentativa
de se localizar o espaço de atuação dos valores-notícia: as instâncias da seleção e da construção.
As limitações teóricas e metodológicas relacionadas aos estudos da noticiabilidade pautam o quinto capítulo, de Carlos Eduardo Franciscato, o mais antigo entre todos os textos da coletânea, de 2002. O autor problematiza alguns dos mais comuns fundamentos teóricos e
metodológicos encontrados nessa área dos estudos do jornalismo e sugere um reenquadramento de tais abordagens no interior de um quadro
que valoriza a complexidade e o caráter multifacetado do fenômeno. Em linha semelhante, o sexto capítulo, também de autoria de Marcos
Paulo da Silva, coloca em debate a dimensão do significado social como parâmetro da noticibilidade. O texto ressalta a necessidade de entendimento dos processos de seleção e de produção noticiosa no interior de um conjunto de influências que não se limitam ao plano individual
dos jornalistas ou às rotinas produtivas, propondo, ao fim, um modelo interpretativo para a questão.
A segunda seção do livro, Questões de aplicabilidade, traz estudos aplicados de noticiabilidade. Como fio condutor da obra, trata-se de
uma complementação das discussões conceituais levantadas no bloco inicial. Foram agrupados cinco textos de doutores e mestres com
aplicações em recortes empíricos de diferentes naturezas. Mario Luiz Fernandes inicia o debate com uma leitura sobre a questão da noticia-bilidade no plano do jornalismo local. No capítulo seguinte, Fabiane Barbosa Moreira desenvolve uma análise dos valores-notícia nos três
jornais diários de maior repercussão no país: O Estado de S. Paulo,O Globo e Folha de S. Paulo. É responsabilidade de Ivan Luiz Giacomellio
questionamento do universo do fotojornalismo a partir de suas interfaces possíveis com os critérios de noticiabilidade. De sua parte, Gustavo
Buss promove uma aplicação da temática à lógica da sociedade da informação em rede e das indústrias noticiosas. Por último, cabe a Leonel
Azevedo de Aguiar o fechamento do bloco com uma reflexão sobre noticiabilidade e ética no campo de atuação do jornalismo investigativo.
Enfim, o leitor tem em mãos uma obra pensada exclusivamente como contribuição para o campo acadêmico em um recorte que possui
suas especificidades e, paradoxalmente, apresenta um escasso lastro de publicações. As discussões, evidentemente, prosseguem. Muitos
são os pontos que vêm sendo pensados e aprofundados em diferentes instâncias no interior das universidades brasileiras. Grupos e projetos
de pesquisa, estudos de iniciação científica, dissertações de mestrado e teses de doutorado, reflexões individuais e coletivas: novos frutos estão por amadurecer e deverão ser colhidos em futuro próximo.
Autores/Pesquisadores
Carlos Eduardo Franciscato
Fabiane Barbosa Moreira
Gislene Silva
Gustavo Buss
Ivan Luiz Giacomelli
Josenildo Luiz Guerra
Leonel Azevedo de Aguiar
Marcos Paulo da Silva
Mario Luiz Fernandes
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