Contestado: O território silenciado – 2ª edição

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Descrição

Organizador: Nilson Cesar Fraga
Prefácio de Rui Jacinto

ISBN: 978-857474-980-8
Páginas: 302
Peso: 440g
Ano: 2017

Esta é uma obra com características diferentes das muitas já publicadas sobre o Contestado, cenário de uma guerra (1912-1916) que vitimou milhares de caboclos sertanejos. Um conjunto de artigos que pretende lançar mais um pouco de luz numa passagem importantíssima da história de nosso país, em particular, dos estados de Santa Catarina e do Paraná.
Estão aqui a disputa pelo território, as questões de limites, o avanço do capitalismo e do imperialismo no campo, a devastadora exploração da madeira, o aviltamento do habitante da região, os monges e o messianismo, as causas que levaram a um conflito armado com as forças policiais e o Exército brasileiro, a comoção popular que abalou uma ampla região.
Os remanescentes do Contestado continuam na região, muitos ainda lutando pela posse da terra que lhes foi usurpada pelo latifúndio e o imperialismo. Uma questão que se mantém aberta à discussão, pois há muito ainda para se desvendar e compreender, e este livro busca preencher algumas destas lacunas do passado, para que entendamos melhor este episódio da nossa história que ainda não se encerrou. Uma reflexão ainda perturbadora para os dias de hoje.

Prefácio à 2ª edição

A ausência e suas geografias
“Não se deve deixar que o lugar envelheça”

“Vai-se ver e a Europa já não está. (…) De repente não se tem nada a ver com aquilo. Acabou-se. E a América do Sul? Lá iremos. É porque pode acontecer que um lugar qualquer esteja à espera. Não se deve deixar que o lugar envelheça.”
Herberto Hélder,
2013.

A geografia serve antes de mais para lutar contra o esquecimento

O convite formulado para escrever uma nota de apresentação da reedição do livro Contestado, o território silenciado, que teve a primeira impressão em 2009, organizada pelo Professor Nilson César Fraga, colocou-nos numa estranha sensação que se situa algures entre perplexidade e uma tocante sensibilização. O esparso conhecimento da problemática em causa e a minha pouca competência para abordar com desenvoltura a ampla e complexa realidade geográfica brasileira não faziam prever tão honrosa e desafiante solicitação.
Superado este primeiro embate, conclui que na confluência de afetos e saberes, se conjugasse devidamente coração e razão, existiam argumentos suficientes para dar a minha anuência a tão irrecusável desafio. Concorreram ainda outros motivos para dar uma resposta afirmativa: oportunidade de estudar aspectos desconhecidos do universo histórico, geográfico e cultural brasileiro, cujos meandros, ricos e fascinantes, me surpreendem e deslumbram a cada nova descoberta; possibilidade de prosseguir um diálogo encetado pelos pioneiros das modernas Geografias de Portugal e do Brasil, quando Orlando Ribeiro, Alfredo Fernandes Martins, Orlando Valverde ou Milton Santos, em meados do século passado, estabeleceram os primeiros contatos diretos entre as comunidades geográficas dos dois países. As conferências, as viagens de estudo e outras iniciativas de cooperação científica que então efetuaram, além de promoverem um mútuo conhecimento, desenvolveram laços afetivos que se perscrutam na Carta aberta de Orlando a Orlando (1984), simbolicamente endereçada por Valverde ao seu homônimo Ribeiro.
Começo por uma merecida palavra de gratidão ao Professor Nilson César Fraga, que não conheço pessoalmente, pela prova de confiança, que espero não defraudar, para enquadrar um território que conhece profundamente e comentar uma temática onde fez um invulgar investimento científico e emocional. O entusiasmo com que abraçou a causa do Contestado e os vários títulos lhe tem vindo a dedicar transformaram este confim brasileiro na sua pequena pátria, lugar que nos toca profundamente e a que ficamos perenemente ligados por indizíveis laços afetivos.
A leitura de Contestado, o território silenciado é uma viagem a um tempo longínquo e um lugar remoto, a uma fronteira situada algures entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, perdida entre 1912 e 1916, quando uma guerra fratricida acabou por marcar indelevelmente a identidade desta recôndita região. As multifacetadas interpretações geográficas que o livro nos faculta, a par de informações pertinentes sobre a moldura econômica, social, cultural, religiosa e política permitem uma melhor interpretação do contexto onde se desenrolou a Guerra do Contestado. Para os menos familiarizados, como eu, com os meandros históricos e geográficos brasileiros, a obra que temos em mãos ajuda a quebrar o mito, difundido pela literatura e pelo cinema, que concede à Guerra de Canudos o exclusivo deste tipo de conflitos.
Contestado é, para os portugueses, uma ausência que está para além do Brasil mais desconhecido que se possa imaginar. Contudo, este Brasil sempre pairou no nosso imaginário como terra imensa, com recursos e oportunidades abundantes. Desde os bancos da escola primária que a minha geração esteve exposta a um discurso que enaltecia esta grandiosidade, fórmula encontrada para sublimar o sentimento de perda dum império que, verdadeiramente, se começou a desmoronar com a sua independência e a irreparável amputação da sua maior colônia. Este quadro era reforçado por relatos mais ou menos fantasiosos de “brasileiros” regressados às origens, ostentando sinais exteriores (casa etc.) que denunciavam tanto um sucesso individual como uma terra de prosperidade.
A partir dos anos 60, a integração de Portugal na nova divisão internacional do trabalho e a alteração política no Brasil reorientaram os fluxos migratórios, mudando o rumo secular da emigração transatlântica portuguesa para destinos europeus, sobretudo a França e a Alemanha, onde se vivia o auge do crescimento econômico do pós-guerra. Nas últimas décadas, a composição, a intensidade e o sentido dos fluxos entre Portugal e o Brasil mudaram, em termos quantitativos e qualitativos: o incremento da circulação de pessoas e bens não permite que sejam negligenciados certos conteúdos intangíveis, permutados entre os dois países, através de novos meios de comunicar, veiculados pela música, literatura e televisão, onde se destacam as telenovelas.
O mar, embora imenso, nunca suficiente largo para fazer uma separação absoluta, estancar o intercâmbio cultural, a troca de conhecimentos, a circulação de ideias ou evitar a miscigenação humana. A intensificação de todo o tipo de fluxos materiais e imateriais, onde as viagens proporcionaram uma efetiva aproximação, traduziu-se numa mútua e renovada aprendizagem de Portugal e do Brasil. Os fluxos imateriais resultantes destes intercâmbios ajudaram a moldar o nosso olhar sobre o outro país, a reconstruir a ideia de nós mesmos, reposicionando o lugar que cada um julga ocupar no mundo. A intensificação recente destas dinâmicas não foi ainda suficiente para superar estereótipos grosseiros que alimentam recíprocas imagens de um conhecimento assimétrico.
A debilidade desta percepção geral aumenta quando descemos ao seu interior. As esparsas descrições que chegavam a Portugal da parcela mais remota do Brasil, não suprem o déficit crónico de informação sobre o Brasil, e vice-versa. Amorim Girão, um dos pioneiros da moderna Geografia portuguesa, fez em 1936 uma eloquente descrição, que adiante se transcreve, onde o apresenta como uma unidade uniforme, generalizada a partir da imagem do Nordeste que a literatura começara a romancear. As imagens que subsistem deixavam os sertões à mercê da densa penumbra que sempre os envolveu, faziam tábua rasa dos seus reais problemas, olvidava quem os habitava, remetendo tudo e todos para as margens de um pesado silêncio.
Este breve intróito evidencia a importância de Contestado, o território silenciado por resgatar de um penoso esquecimento alguns fragmentos da história de um imenso território, motivos suficientes que justificam a reedição de um livro que ajuda a colocar no mapa uma terra distante, recôndita, que os poderes dominantes persistem em esquecer e os olhares mediáticos em negligenciar. Ao darem visibilidade a territórios deserdados e trazerem à memória comunidades excluídas fazem o contraditório de uma história sempre escrita pelos vencedores e detentores do poder, os autores mostram como a Geografia não é uma ciência neutra nem os geógrafos profissionais inocentes. Assumem, implicitamente, o compromisso de resistirem à

(…) geografia dos dirigentes do aparelho de estado, que estruturam o seu espaço em províncias, circunscrições, distritos, e à geografia dos exploradores (muitas vezes oficiais) que preparam a conquista colonial e a exploração, juntou-se a geografia dos estados-maiores das grandes firmas e dos grandes bancos que decidem sobre a localização dos seus investimentos a nível regional, nacional, internaciona (Lacoste, 1976: 12).

A nobre missão protagonizada por estes autores leva-os a reconhecer, como outros já o fizeram, que “o domínio estratégico por excelência é o espaço, o lugar, o terreno em que combatem as forças em presença e onde se desenrolam as lutas atuais” (ibidem: 81). Estão conscientes que o discurso científico não é inócuo nem inofensivo, pelo que recorrem ao saber estratégico que dispõem para mostrar “que é particularmente importante afirmar que a geografia serve, antes de mais, para fazer a guerra, isto é, desmascarar uma das suas funções estratégicas essenciais e demonstrar os subterfúgios que a fazem passar por simples e inútil” (ibidem: 11).
Importa ressalvar que os comentários que se passam a expressar resultam de um olhar distante e externo, subjetivo e superficial por pecar por ausência de informação. Os elementos pertinentes que o livro faculta são um bom roteiro para penetrarmos “sertão adentro” em demanda dos meandros infindáveis de um Brasil nosso desconhecido, estímulo adicional para uma leitura atenta de Contestado, o território silenciado. (…)

Rui Jacinto
Geógrafo. Assistente Convidado no Departamento de Geografia da Universidade de Coimbra. Membro da Comissão Executiva do Centro de Estudos Ibéricos (CEI) em representação da Universidade de Coimbra. Assessor na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. Tem trabalhos sobre dinâmicas econômicas e sociais, ordenamento e reestruturação dos territórios, papel dos atores e importância das políticas nos processos de desenvolvimento regional e local. Tem ainda publicações sobre cooperação territorial, particularmente a transfronteiriça, gegrafia literária e rotas de escritores. Participação em vários projetos de investigação, nacionais, transfronteiriços e internacionais; nos últimos anos tem desenvolvido diferentes iniciativas de cooperação entre geógrafos dos países de língua portuguesa, sobretudo Brasil e Cabo Verde.

PREFÁCIO

Hamlet: Não estás vendo nada ali?
Rainha: Absolutamente nada, mas tudo o que há eu vejo.
Shakespeare

Olhar em perspectiva sobre os acontecimentos do Contestado. Este parece ser o desafio para esta obra organizada pelo professor Nilson César Fraga. O advento da cultura sob o signo da linguagem nos mostrou que não nos debruçamos sobre objetos coagulados em coisas.
Movemos-nos sustentados pela palavra plena que produz sentido. Objetos e Sujeitos interagem em construções dinâmicas redefinindo a verdade sempre plural. O Contestado ou os Contestados?
Os mais diferentes enfoques aqui desenvolvidos não reivindicam o olhar que olha, mas o olhar que é olhado. Não se trata de um passado a cobrar um futuro. Antes, é já um futuro, um agora, que revisita o passado. O tempo objetivo não excede o compasso dos cronômetros. No entanto, o tempo da memória escorre num interminável fluir. É o tempo memorável que perpassa o que aqui é exposto. Não encontramos mais o Contestado. Encontramos a expansão de seu fluir. O Contestado é sementeira; lugares, pessoas, poderes, utopias são marcas; são fontes ainda em estado bruto. Explorá-las é condição para a continuidade do sentido de nossas vidas. Toda utopia é raquítica quando lhe falta o vigor da memória. O sangue lá vertido, os ossos lá ressequidos, os poderes lá definidos, os lugares lá devastados, as utopias lá desejadas retornam à vida por meio desses múltiplos olhares. O professor Nilson e sua equipe de trabalho nos oportunizam um espelho no qual a imagem não é apenas refletida, pois é um espelho de memória. Nele, nos vemos refletidos e refletimos. O olhar da ciência moderna esteve marcado, como sabemos, por uma espécie de distanciamento entre o Sujeito e o Objeto. Distância produtora de inúmeros reducionismos que terminam por classificar os acontecimentos e recolhê-los aos escaninhos gélidos da pura classificação. A experiência humana não pode descansar adormecida pelo torpor da pura descrição. O que fazem os olhares em perspectiva aqui sugeridos é insuflar a vida. Não nos sentiremos à vontade ao ler o que aqui é exposto. Devemos estar preparados, pois vamos nos deparar com uma proximidade singular e desassossegadora entre os cenários e os protagonistas do Contestado. Não se deve buscar aqui, de igual maneira, a pura classificação do ocorrido naqueles tempos para que sejam satisfeitas nossas expectativas acadêmicas. Não se trata de um trabalho de reconstrução: tarefa inglória. Antes, aqui, se prestarmos atenção, serão identificados os fios descoloridos de uma trama maior. A obra de nossas próprias mãos.
O professor Nilson César Fraga, organizador deste trabalho, não trata do Contestado como fato cronológico superado pelo tempo. Estudioso incansável, ele tem sido uma voz persistente na composição da memória do Contestado, parte de nossa história lamentavelmente ainda mal conhecida. As múltiplas linguagens e os diversos enfoques, oportunizados pelos colaboradores enfatizam a verdade recomposta num renovado e dinâmico diálogo.
Prof. Dr. Bortolo Valle
Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Apresentação

A Guerra do Contestado em si foi definidora dos territórios atuais de Santa Catarina e do Paraná, além de constituir aquelas denominadas Região do Contestado Catarinense e Sul Paranaense, onde, conforme Eduardo Galeano (1986) , verificou-se uma das maiores guerras civis do continente americano, pois o genocídio de milhares de camponeses pobres foi sua principal marca.
A Guerra do Contestado é um episódio complexo, pois é alimentado por vários fatores que se entrelaçam, sejam de ordem social, política, econômica, cultural, sejam de ordem religiosa.
Os olhares e pareceres apresentados aqui são fruto de uma viagem de reconhecimento da Região do Contestado, feita com alunos de mestrado e doutorado em Geografia da Universidade Federal do Paraná. Foram três dias percorrendo cidades e sítios histórico-antropológicos em dezenas de cidades catarinenses e paranaenses, percorrendo mais de mil quilômetros. A questão territorial do Contestado foi tema central na disciplina Geografia, Rede, Território e Poder, ministrada no programa mencionado, constante dos objetivos da Linha de Pesquisa “Produção e transformação do espaço urbano-regional”.
Para os alunos, a viagem era inédita; para mim, a 23º com alunos paranaenses entre graduação, especialização, mestrado e doutorado a partir de 2000 até 2008, sendo que o tema Guerra do Contestado é tratado por mim desde 1998, quando cheguei ao Paraná e assumi a disciplina de Geografia do Paraná em instituições de ensino superior.
O roteiro de viagem, partindo de Curitiba, segue até Mafra – SC e Rio Negro – PR, onde são feitas observações geográficas da região do rio que empresta o nome para a segunda cidade e as trincheiras de defesa; dali viaja-se até Três Barras – SC, que sediava a companhia norte-americana Southen Brazil Lumber and Colonization Company (uma das maiores madeireiras mundiais daquela época, que possui o terceiro cinema mais antigo do Brasil). Então viajamos 10 km até Canoinhas – SC, importante cidade nos anos da Guerra (foi atacada pelos camponeses possuindo mais de 20 trincheiras de defesa).
Indo pela BR-280 chega-se a Porto União – SC e União da Vitória – PR, cidades que sediavam as operações militares contra os camponeses e os trilhos da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande – EFSP-RG que separa as duas cidades e estados.
Pegando a SC-302, conhecida como Rodovia da Amizade, passa-se por duas típicas cidades do interior do País e que foram duramente atacadas na Guerra do Contestado – Matos Costa, antiga São João dos Pobres (visita ao Nosso Museu e ao local onde foi assassinado o capitão Matos Costa e, fundamentalmente, conhecer a Josette Dambrowski e Calmon – SC, que sediou a segunda madeireira da Lumber (sendo que esta cidade foi queimada pelos camponeses).
Concluído o primeiro dia de viagem, chegamos a Caçador – SC, sede da Universidade do Contestado e do Museu do Contestado, e nela pernoitamos.
No segundo dia, visitamos a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande – EFSP-RG (construída pela Brazil Railway Company) e Perdizinha, na cidade de Lebon Régis, que foi um dos redutos mais importante dos camponeses ao final da guerra (local onde o Exército brasileiro queimou os corpos de centenas de camponeses em crematórios erigidos em taipa). A partir de Perdizinha seguimos o rio do Peixe, passando por Videira, Rio das Antas, Pinheiro Preto, Ibicaré, Luzerna e Joaçaba (todas em Santa Catarina) – observar a esplêndida paisagem dos profundos vales já justificaria uma viagem pela região, porém há ainda as modificações geradas pela colonização europeia, no espaço e na cultura, além dos fragmentos deixados com a Guerra do Contestado. Em Joaçaba assistimos à peça de teatro “O Contestado”, encenada pelo Grupo Teatral da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC.
No terceiro dia, viajamos para Irani – SC, onde em 1912 explodiu a Guerra do Contestado, ocasião em que morreram o Monge José Maria e o militar paranaense capitão João Gualberto. Desse importante sítio histórico-antropológico retornamos para Curitiba, passando por General Carneiro – PR, onde há o monumento ao aviador no local do primeiro acidente aéreo militar brasileiro.
Todo esse roteiro de reconhecimento do Contestado pode ser feito a partir de Florianópolis ou de qualquer outra cidade, pois a região é interligada pelas redes viárias nacionais, mas, antes, a pessoa ou o grupo necessita se interar do que foi a Guerra do Contestado, para que possa absorver aquilo que a região oferece – devemos considerar o fato de que esse tema histórico é pouco estudado no País – quanto mais longe da Região Sul, maior o desconhecimento.
A Guerra do Contestado é negligenciada no ensino paranaense, tanto no fundamental e médio como no superior, fato que se reconhece pelas publicações sobre a questão, geralmente estudadas em Santa Catarina e São Paulo e publicadas nos referidos estados. Nesse sentido, dentro das minhas possibilidades, há uma década venho tentando, no Paraná, diminuir a invisibilidade do Contestado, avançando das leituras clássicas e dos olhares militares (“os vitoriosos”), publicados há muitas décadas, sendo estas a base que usam para referenciar aquele momento histórico, tão rico e complexo na determinação dos limites estaduais – mas há muito que fazer e a resistência é enorme, por razões regionais.
Os trabalhos apresentados aqui visam a ajudar no rompimento da invisibilidade do Contestado. Mesmo nascidos de uma disciplina acadêmica, eles buscam romper o peso científico, produzindo olhares e pareceres atinentes ao tema estudado e ao território visitado. Mas não é fácil escapar das amarras do pensar e escrever científico. Dessa forma, os capítulos, um de cada autor-aluno de pós-graduação, trazem a visão de mundo deles, assim como as suas percepções a partir da área de formação universitária – era demais esperar apenas as percepções.
Mas o casamento do ser e do cientista deixa o conjunto mais rico e interessante, atingindo público mais amplo e diversificado.
Não se buscou, entre o teórico e a visita aos sítios, um olhar inédito sobre a temática, mas mostrar a diversidade de possibilidades de observações possíveis que o Contestado pode gerar no ser humano que o visita, tanto no livro quanto no território – um mundo grande demais para ser entendido rapidamente.
Os autores são brasileiros de diversas regiões. Alguns nunca haviam estudado o tema; outros o viram na escola de forma bem genérica, e apenas dois pesquisaram na graduação.
Temos aqui, então, olhares, pareceres e sentimentos de paranaenses, catarinenses, piauienses, maranhenses, paulistas, rondonienses e mineiros que, até então, tinham no episódio de Canudos a maior luta pela terra em solo pátrio, mas que, com certeza, puderam ver e sentir a grandiosidade do Contestado no processo de formação do Brasil, como já alertara Eduardo Galeano.
Outro fato que enriquece as observações aqui contidas é a formação acadêmica dos autores nas ciências humanas, tais como geógrafos, cientistas sociais, arquitetos, turismólogos, advogados, linguistas, economistas, entre outros.
Um fato é importante mencionar: vimos no Contestado a mobilidade social do passado e do presente, em seus movimentos significativos na posição econômica, social e política, tanto do indivíduo quanto do grupo social. Mas vimos também a desigualdade social na sua função de estimular as pessoas a exercerem os diversos papéis necessários à sobrevivência da própria sociedade. E, por fim, observamos que o Contestado é região, é território e é identidade, coexistindo como uma porção própria do Brasil e do mundo.

Nilson Cesar Fraga
Organizador

 

Informação adicional

Peso 550 g
Dimensões 16 × 23 cm

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