Bibliotecas Em Chamas

As bibliotecas são muito mais que estantes repletas de livros: são lugares vibrantes de histórias, de conhecimentos, de personagens, de vida − e de dramas. No passado, as bibliotecas foram cenário de grandes debates, discussões inflamadas, e litígios sobre os fundamentos do saber. E, inúmeras vezes, as bibliotecas foram vítimas de conquistas, guerras civis, de ódio entre etnias, povos e religiões, destruídas e incendiadas pelo que representavam, e pelo que continham. Produto da genialidade de indivíduos excepcionais, ou acumulação de todo o saber de uma época, suas histórias nunca são as mesmas, e cada uma delas daria um romance, ou uma fábula. Assim como os indivíduos, os povos, as nações e os impérios, as bibliotecas surgiram, brilharam, padeceram, foram reduzidas em cinzas e renasceram com seus acervos de argila, pedra, madeira, papiro, bambu, papel e megabytes. Suas aventuras, trágicas, épicas, fabulosas, míticas, são a própria história da humanidade, e se projetam até no futuro, o futuro da civilização, do qual livros e bibliotecas continuarão a fazer parte.

Roberto Cattani percorre a história geral das bibliotecas, abrindo volumes e volumes de memórias significativas, acontecimentos vibrantes, anedotas pouco conhecidas. Cada uma das bibliotecas evocadas tem sua própria personalidade, seu perfume exclusivo, seu fascínio histórico, uma atmosfera que nos encanta ou espanta. Atrás de cada grande biblioteca há um personagem único, e o livro apresenta algumas dessas vidas fascinantes.
No decorrer da história, revivem os grandes livros com tábuas de argila da Mesopotâmia; a sabedoria da Antiguidade em Alexandria; a biblioteca mais antiga do mundo em atividade, no Monte Sinai; as estantes coloridas do erudito alquimista de Bagdá; um acervo inteiro na memória de seu fundador; a biblioteca renascentista de Florença e sua irradiação cultural e criatividade artística; cemitérios e lixeiras como forma de preservar livros e documentos para a eternidade; os ciclos de destruição e renascimento na China, a maior produtora de livros em todos os tempos; as coleções secretas de obras proibidas, eróticas, clandestinas, dentro das grandes bibliotecas oficiais; as bibliotecas devastadas para aniquilar os povos e suas culturas; na cidade imperial de Fez, no Marrocos, uma mulher fundou e outra restaurou a biblioteca tombada pela Unesco; as perseguições antissemitas do nazismo, e os livros como resistência ao Holocausto; a biblioteca surrupiada no deserto do Saara para salvá-la dos guerrilheiros fundamentalistas; as bibliotecas ideais de Eco e de Borges, e a biblioteca dos livros perdidos. O que liam mesmo os grandes escritores?: as bibliotecas pessoais de João Guimarães Rosa, Henry Miller, Gustave Flaubert, Rabelais; a biblioteca do futuro, cujos livros serão acessíveis somente em 2114. As cidades-bibliotecas, e a biblioteca de Harry Potter…
São textos rápidos, enxutos, quase jornalísticos, que privilegiam a narrativa e mantêm viva a curiosidade do leitor, deixando para a rica bibliografia a possibilidade de aprofundamento da grande variedade de histórias e temas abordados. que liam mesmo os grandes