Professor Areão: experiências de um “bandeirante paulista do ensino” em Santa Catarina (1912-1950)

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Descrição

Organizadora: Gladys Mary Ghizoni Teive

ISBN: 978-85-7474-799-6
Páginas: 256 il.
Peso: 280g
Ano: 2014
Capa e projeto gráfico: Valmor Fritsche

O fenômeno conhecido na Historiografia Brasileira como “ Bandeirismo Paulista do Ensino” foi desencadeado pela reforma da instrução pública do ensino paulista, iniciada em 1890, a qual, dentre outros, implantou os grupos escolares. Esta experiência inovadora foi disseminada em todo o país por meio das chamadas “Missões de Professores Paulistas”, da qual faziam parte normalistas com experiência docente e de gestão em grupos escolares, os quais eram contratados para realizarem reformas congêneres nos estados. Santa Catarina foi um dos primeiros estados da federação a contratar um professor paulista para reformar a sua instrução pública: o professor Orestes Guimarães. No obstante a sua importância para o entendimento da cultura escolar brasileira, este fenômeno tem sido relegado a um quase esquecimento no meio acadêmico brasileiro. Esta coletânea busca, através da análise da trajetória de um “bandeirante paulista do ensino”, contribuir para saldar esta dívida dos historiadores da educação, rememorando facetas da epopeia do professor João dos Santos Areão, entre 1912 e 1950, em Santa Catarina.
Gladys Mary Ghizoni Teive

Prefácio
Três lustros em Laguna: João dos Santos Areão e seus registros pessoais

O povo que não tem tradição é aquele que passou uma esponja sobre o passado, para viver o presente sem as verdadeiras raízes que lhe permitem sobreviver.
(João dos Santos Areão, s/d , p.13)

Escrever foi um verbo e uma prática intensamente presentes na vida do professor João dos Santos Areão (1892-1980), paulista que chegou a Laguna (SC) em dezembro de 1912 para dirigir o recém-construído Grupo Escolar Jerônimo Coelho, a convite do Professor Orestes Guimarães e aval do Governador Vidal Ramos. Permaneceu na cidade por cerca de quinze anos, período que lhe inspirou a escrever sobre suas experiências, provavelmente em 1972 – basta saber que no lugar onde hoje (1972) se encontra o cinema existia um campo de futebol − e, principalmente, por eu ter vivido por três lustros na cidade de Laguna (s/d, p. 106).

Passado meio século de sua chegada a Laguna – eu estou recordando, depois de mais de 50 anos (s/d. p. 31), o Professor Areão, já residindo em Florianópolis, resolve rever a querida terra, recordando fatos (p.88) e para isso se propõe escrever quase uma autobiografia e falar na primeira pessoa (p. 112) sobre este tempo lá vivido. Foi este documento manuscrito – em forma de narrativa − que, chegou às nossas mãos disponibilizado por sua família que, zelosamente, o preservou como tesouro e cujo acesso só foi possível pela pertinaz busca empreendida pela professora e pesquisadora Gladys Mary Ghizoni Teive, organizadora deste belo livro.

A relevância deste material para a historiografia se insere em um gênero que se convencionou chamar de ego-história e que emerge como “um gênero novo, para uma nova idade da consciência histórica a partir do cruzamento de dois grandes movimentos; por um lado, o abalo das referências clássicas da objetividade histórica, por outro, a investigação do presente pelo olhar do historiador ao passado” (NORA,1989, p. 9). Reconhecidos como ego-documentos, estes papéis manuscritos se constituem em arquivos de vida, pois funcionam como uma extensão dos seus titulares e pode-se pensar que, por seu intermédio, o autor também desejasse, pela perenidade da escrita, forjar uma certa perpetuidade.

Fruto da memória de João dos Santos Areão, produzida naquele presente da sua escrita, a narrativa se escora em vestígios de lembranças reencontradas que se materializam no papel e são assim descritas: Reviver uma página da vida típica da tradicional Laguna, é como recordar um período de seu calendário que traz muitas saudades aos que tiveram a ventura de viver naquela época que se distancia à mediada que o tempo escoa (s/d, p.17). Pouco escapa ao seu olhar arguto: pessoas, locais, situações, fatos, opiniões, esportes são cenas do cotidiano da cidade, registros de seus habitantes, seus trabalhos, lazeres, etc. Minúcias descritivas sobre a vida em Laguna são expostas pormenorizadamente e, ao dar visibilidade às experiências contadas, permitem apreender um capital de vivências e produzir um sentido para aquele presente, pois que toda memória é sempre uma construção do presente.

A família guardou o documento, que se substantivou na constituição de um arquivo pessoal que gentilmente disponibilizado se dá a ler através desse livro onde a organizadora reuniu pesquisadores de diferentes formações que, através de consultas e cruzamentos com outros documentos colocaram em cena, com precisão e sutileza, aspectos da vida e da obra de João dos Santos Areão, educador, inspetor e homem público que trabalhou na campanha de nacionalização do ensino, em Santa Catarina, nas décadas de 1930/1940.

Mergulhar neste ego-documento permitiu apreender saberes, crenças, valores e práticas de um educador atento que ao escrever suas memórias forneceu, aos pesquisadores do presente, instrumento e alavanca para a compreensão de um passado construído naquele presente e mostrou a importância, para a pesquisa histórica, da preservação destes materiais, quase destinados ao fogo e/ou ao lixo, mas que se constituem, para o historiador, patrimônios documentais.

Um livro, enfim, com pesquisa criteriosa, densidade teórica e qualidade narrativa tecido com competência e sensibilidade e que contribuiu para mostrar que quando a perspectiva peculiar dos autores age aliando teoria e empiria o resultado é profícuo. Areão deixa confirmação de sua existência, constrói uma imagem para si próprio e consciente ou inconscientemente para os outros, além de evidenciar aspectos de sua vida no limiar do século XX, realçando pela singularidade de sua escrita, a pluralidade de um vivido.

Sob o prisma combinado da sensibilidade e da erudição, ganhamos todos com esta obra em que poderemos descobrir, pela leitura, a singularidade do protagonista pela pluralidade de vários estudos que, ao fim e ao cabo, se somam para apresentar ao público, diversos estudos que permitem entender o movimento da História onde, “em cada presente, as dimensões temporais do passado e do futuro são postas em relação” (HARTOG, 2006, p.263).

Profª Maria Teresa Santos Cunha
Departamento de História/ UDESC

Referências

AREÃO, João dos Santos Oliveira (s/d). [Memórias]. Florianópolis.

NORA, Pierre; CHAUNU, Pierre (orgs). Ensaios de Ego-História. Lisboa: Edições 70, 1989.

HARTOG, François. Tempo e patrimônio. Varia Historia, Belo Horizonte, v.22, n.36, p.261-273,jul-dez.2006.Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/vh/v22n36/v22n36a02.pdf

Informação adicional

Peso 280,00 g
Dimensões 15 × 21 cm

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