Descrição
Autora: Daisi Vogel
ISBN: 978-85-7474-455-1
Páginas: 304
Peso: 300g
Ano: 2009
Ao lado de sua obra de contista, ensaísta, poeta, resenhista, prefaciador e tradutor, Borges possui uma vasta obra oral, feita de palestras, cursos, discursos e, sobretudo, entrevistas. Essa obra multiforme vem sendo recolhida e editada, mas tem recebido mais atenção do público do que da crítica. Daisi Vogel é uma das primeiras a explorar uma parte importante desse rico repertório. Para isso, juntou um grande número de entrevistas publicadas na Argentina e no Brasil. Em Buenos Aires pôde colher material de difícil acesso, gentilmente facilitado pelos colecionadores, estudiosos e biógrafos de Borges, Alejandro Vaccaro e Horacio Salas. Nos arquivos de jornais no Rio e em São Paulo encontrou também uma notável quantidade de entrevistas publicadas na mídia nacional, em geral traduzidas da imprensa estrangeira. No corpus da pesquisa entraram, além daquelas editadas em livros, 78 entrevistas em espanhol e 47 em português, uma sólida amostra dos diálogos de Borges com uma grande variedade de interlocutores .
Este livro aborda Borges como um mestre oral, um excepcional mestre falado que complementa o mestre escrito. Daisi estava talhada para a tarefa: com longa experiência de jornalista, sensível aos encantos da literatura e atenta a seus truques, dispunha de instrumentos para discernir nos ditos borgianos tanto a técnica como a transcendência. Para levar a cabo sua empreitada pioneira, Daisi sentiu necessidade de mergulhar na teoria da entrevista e na teoria do ensaio, por ter constatado o caráter ensaístico da entrevista. Esse duplo mergulho teórico lhe permitiu efetuar uma leitura matizada, em que desvenda a arte e as astúcias de um dos entrevistados mais argutos do século XX.
O que surge é um Borges não apenas profundo no que fala, mas também um hábil retórico. Um traço típico da entrevista borgiana é que ela não é apenas uma explicação da obra publicada, que complementa através de novos desenvolvimentos. Como entrevistadora experiente e como conhecedora da obra de Borges, Daisi sabe mostrar os aspectos inovadores das entrevistas de Borges como obra à parte, diferentemente estimulada pelas intervenções de entrevistadores bastante heterogêneos. Daisi ressalta o papel central desempenhado pela memória extraordinária de Borges, que cita trechos inteiros não apenas dos autores comentados, mas de seus próprios textos que ele, tipicamente, diz desconhecer.
A tese central do livro é que Borges realizou, através da entrevista, “um derradeiro projeto de ensaísmo, que pela sua farta veiculação se tornou um modo muito peculiar e ativo da sua relação com a contemporaneidade”. Segundo a autora, Borges promove um “desvio qualitativo” na entrevista, tirando dela a solenidade e transformando-a em “lúdica e intransitiva”. O comportamento de Borges em suas entrevistas é tão peculiar que ele se converte em uma verdadeira poética, cujas leis Daisi destrinça no último, e particularmente rico, capítulo do livro.
Podemos dizer que essas “experimentações feitas com as entrevistas de Borges” (como a autora modestamente define seu árduo e inteligente trabalho) nos dá como resultado um livro singular na bibliografia borgiana. Neste livro fica demonstrado que a obra conversada de Borges possui uma pulsação e originalidade por vezes até mais fortes que o consagrado, e tantas vezes intimidante, mestre escrito. Cabe notar, finalmente, que, apesar de seu rigor na documentação e nas análises, o volume é de agradável leitura.
Walter Carlos Costa
Daisi Irmgard Vogel é jornalista com doutorado em Literatura e trabalha desde 2004 no Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Nasceu em Blumenau (SC), em 1965.
O escritor argentino Jorge Luis Borges concedeu um extenso número de entrevistas nas suas três últimas décadas de vida, que aqui se propõem sejam consideradas como parte significativa de sua produção literária. Para tanto, verificam-se sua tomada de posição diante da entrevista e da conversa, os jogos que realiza durante o acontecimento do diálogo, as suas aventuras com a palavra e as incursões que promove, oralmente, pela narrativa e pelo ensaísmo. O que se descobre é que Borges singulariza a entrevista como uma experiência estética. Na medida em que faz dela um meio de reflexão colaborativa e criativa, coloca em xeque as tentativas de delimitar e categorizar campos como a entrevista, a conversa e o ensaísmo. Vislumbra-se como Borges não apenas realiza um potencial poético da entrevista como ainda, através dela, renova o ensaísmo, fazendo do diálogo um de seus projetos literários finais.
Avaliações
Não há avaliações ainda.