Descrição
Jornalismo e imaginário de leitores urbanos
Autora: Gislene Silva
ISBN: 978-857474-446-9
Páginas: 304
Peso: 440g
Ano: 2009
Pode o estudo da relação de leitores urbanos com uma revista jornalística especializada em atividades agrícolas ajudar a compreender o fenômeno, aparentemente comum, do sonho de se ter uma casa no campo? Diante da complexa relação do homem com a natureza, percebe-se que, ao sonhar com a casa no campo, leitores da revista Globo Rural residentes na cidade de São Paulo não apenas se voltam para o passado rural, vivido real ou arcaicamente junto ao mundo natural. No tempo presente, eles tecem uma crítica profunda ao modelo civilizatório da metrópole e, olhando para frente, imaginam um futuro melhor longe da violência, trânsito pesado e poluição, num lugar onde se realiza o desejo de um convívio mais harmonioso e solidário com a natureza e com os outros homens. Esta investigação do Jornalismo, no âmbito da recepção e como narrativa cultural potente em sua dimensão simbólico-mítica e imaginária, se dá no diálogo com a Antropologia.
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
Enganam-se aqueles que pensam que os leitores da revista Globo Rural são apenas fazendeiros ou sitiantes preocupados com seus negócios ou sua sobrevivência. Muitos deles nunca tiveram ou vão ter um palmo de terra. Mal têm um jardim, alguns vasos de planta ou um bicho de estimação. Vivem, muitas vezes, em apartamentos comprimidos pelo adensamento das construções da metrópole, nos quais bate pouco sol, mas cujas janelas se abrem para um sonho, o da casa no campo, tão bem cantado pelo recém falecido compositor Zé Rodrix. Lá sim, lá tem muito sol, muito espaço, enormes áreas verdes, água em abundância, fruta no pé, fogão a lenha, comida caseira, gente amiga e toda a paz e aconchego que a cidade grande insiste em negar.
O trabalho de Gislene Silva revela o quanto a leitura das revistas e a audiência da mídia em geral repousam sobre essa espécie de consumo desejante e imaginado, atualizado, por vezes, em pequenos gestos e aquisições. Quantos leitores de revista sobre surf nunca surfaram? Quantas leitoras de revistas femininas, leitores de revistas de negócios ou de arquitetura folheiam suas páginas sonhando acordados? Movida por esta percepção inicial, a autora partiu em busca do depoimento dos leitores urbanos da revista Globo Rural e, com muita sensibilidade, soube ouvir suas histórias, dilemas e expectativas e deixá-los falar por meio de seu texto. Na Antropologia, na História, na Filosofia buscou as referências para entender e interpretar de maneira cuidadosa e inteligente o apego desse leitor à revista e ao universo rural. Mas, o melhor de tudo é que Gislene, como boa mineira, deu conta disto num texto extremamente agradável, como quem está contando causos, sem permitir que, ao longo da análise, as histórias e sonhos dos leitores perdessem o seu sabor.
Maria Celeste Mira
Autora
Gislene Silva, mineira de São Geraldo, Zona da Mata, nascida em março de 1962, é graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais. Concluiu em 1989 o mestrado em Comunicação Social pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (atual Umesp), com a dissertação Do detalhe ao talhe: Dissertações/teses em Comunicação Rural; uma revisão 1978-1988. Fez seu doutorado em Ciências Sociais/Antropologia na Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo, defendendo em 2000 a tese O imaginário rural do leitor urbano: o sonho mítico da casa no campo. Como jornalista trabalhou na revista Saúde (Editora Abril), e, por 11 anos, na revista Globo Rural (Editora Globo), no período de 1990 a 2001; desde março de 2003, atua como professora do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
e-mail: [email protected]
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