Descrição
Autores: Jandyr Côrte Real, Joares Carlos Ponticelli
ISBN: 978-85-7474-370-7
Páginas: 112
Peso: 180g
Ano: 2007
Uma reportagem sobre Política nos tempos da emigração
Li, com interesse, curiosidade e deleite, Era uma vez, nos Açores, de Jandyr Côrte Real e Joares Carlos Ponticelli, atento à advertência, em forma de subtítulo, de que se trata de “uma reportagem sobre a política nos tempos da emigração”. Encaminhando-me os originais, os autores surpreenderam-me com o honroso convite para escrever-lhes o prefácio.
Sim, foi com interesse, curiosidade e deleite que li os originais. O interesse nasceu do tema. Afinal, nestas plagas que vão para além de Manezópolis, batidas pelo “velho vento vagabundo”, nossa maneira de ser, nossas tradições, nossa cultura, nosso folclore – popular e político – nosso próprio temperamento, nossa índole, “nosso dialeto”, nossa maneira de fazer política e tratar a res publica – tudo denuncia o DNA de genuínos herdeiros da “diáspora luso-açoriana”, de que, afinal, trata o livro. Sob esta ótica, poder-se-ia defini-lo como interesse genérico, calcado em tantas vertentes. Mas há também, digamos, o interesse específico, da parte de qualquer cidadão minimamente consciente, em perquirir, na esfera pública, a gênese de nossos costumes e instituições políticas, a partir das velhas construções de antanho, do povo dos Açores e Madeira. Pois!
Já a curiosidade brotou desse toque de originalidade de opção metodológica. Desculpem. Soa pedante essa estória de “opção metodológica”. O que quero dizer, sem delongas, é que o toque de curiosidade tem origem na própria epígrafe, no subtítulo, que expõe o claro propósito dos autores, de produzir uma reportagem sobre a política nos tempos da emigração. Porque, convenhamos, não bastava serem talentosos escritores, era preciso ser também um jornalista e um professor competentes e ousados, para escrever História – com H maiúsculo – como quem se defrontasse com um tema banal, pautado pelo editor ou pelo educador para preencher um espaço ocioso, e se dispusessem, assim mesmo, a partir dele, a produzir um trabalho jornalístico e educativo de fôlego, uma grande reportagem instrutiva. Mas o tema não é banal e a decisão não foi de um hipotético editor ou educador. Foi do jornalista-historiador Jandyr Côrte Real e do professor Joares Carlos Ponticelli. E o resultado foi um trabalho primoroso, que os coloca, sem favor nenhum, ao lado de nomes ilustres da nossa historiografia. Numa galeria respeitável e veneranda. Boiteux, Cabral, Piazza… para não falar dos registros encontrados em museus e bibliotecas européias sobre navegadores que vasculharam este rincão que um comandante russo apelidou de “Jardim do Brasil”, cujo povo era – dizia ele – preguiçoso mas hospitaleiro!
Outrossim, vale lembrar que a história dos povos, como a do comum dos mortais, não se tece de lances napoleônicos, monumentais, grandiloqüentes, mas do dia-a-dia, do lugar-comum, da mesmice monocórdia quebrada de longe em longe por um acontecimento exponencial. Assim foi a história da nossa ancestralidade, reproduzida, contudo, no ritmo de uma reportagem! Eis aí a proeza. A manifestação do talento de Jandyr Côrte Real e Joares Carlos Ponticelli.
Por fim, o deleite. A leitura deste livro é uma viagem ao passado, um reencontro com as origens, o eco da nossa História, nos dois lados do Atlântico. Lá, a dispersão, a diáspora, minuciosamente explicitada ao longo da “reportagem”. Aqui, o reencontro, a re-união, depois, a perpetuação da travessia transatlântica através do tempo, a partir de pequenos núcleos com a mesma língua, as mesmas tradições, a mesma fé, a mesma saudade dilacerando o coração. Mas, se valer o paralelo, tal como os hebreus no cativeiro, chorando a saudade e o exílio, mas de olhos postos na Terra da Promissão, aqui também os fundadores deste chão souberam fazer, com engenho e arte, a sua Terra Prometida. Não voltaram mais!
Parabéns a Jandyr Côrte Real e Joares Carlos Ponticelli. Parabéns à Assembléia Legislativa do Estado, que apoiou o projeto, viabilizando-o nesta obra preciosa. Que venham outras. Muitas outras.
Paulo Leonardo Medeiros Vieira
Florianópolis, 12 de outubro de 2007
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