Descrição
Autora: Elaine Tavares
ISBN: 978-85-524-0512-2
Páginas: 234
Peso: 325g
Ano: 2025
16x23cm
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Eu sempre disse à Elaine que eu saía de sua casa como que encantado, me perguntando: quem é que trata quem, afinal? Era muito satisfatório cuidar do Nelson porque Elaine sempre teve a clareza da crítica à hipermedicalização da vida, especialmente no envelhecimento. Não havia nenhuma dificuldade em compactuarmos sobre os limites das intervenções médicas e sobre nosso plano conjunto de mantermos Nelson sob cuidados domiciliares, evitando a hospitalização sempre que possível. Nosso desejo era de que o seu Tavares estivesse em casa em seus últimos dias, e assim foi. Com muita cumplicidade e vínculo, conseguimos articular que os seus últimos cuidados médicos fossem realizados na alegria e no conforto do lar. (…)
Quero aqui passar longe de qualquer romantização do perrengue e da desgraça que é cuidar de um parente com demência progressiva dentro de um contexto político social tão liberal e individualista. Vivemos numa urbe sem mobilidade urbana, sem políticas públicas adequadas frente ao envelhecimento demográfico e dentro de uma cultura etarista. Os textos da Elaine reverberam isso, tão vivos e crus, e não me permitem qualquer papinho “good vibes”. Não consigo nem posso medir o sofrimento e o cansaço envolvidos em torno de tanta história contada e vivida. Por isso é importantíssimo que a gente destrinche o conceito tão antiético que é a tal da “felicidade”. Só uma ética radical de respeito à vida definitivamente vai nos levar a algo diferente do que a mera paz ou a felicidade fugaz.
Henrique Schlossmacher Passos, médico
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O Alzheimer é uma doença degenerativa. A pessoa vai perdendo a memória e ao mesmo tempo sofrendo várias alterações de humor, podendo chegar a extremos de violência. É uma montanha russa, um galope sem freio. Depois, com o tempo, também o corpo vai perdendo o vigor, a força, os movimentos, e a pessoa vai minguando. É um lento e doloroso adeus. (…)
De todas as coisas malucas que vivemos nesse processo, o que mais marcou foi ver, todas as manhãs, o sorriso imenso na cara do pai quando a gente chegava para despertá-lo. Ele não sabia quem a gente era, mas sabia que o amávamos e confiava em nós. Foi assim até o último suspiro.
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