Descrição
ISBN: 9788574744858
Páginas: 352p.il.
Peso: 580g
Ano:2009
ALCIDES: MUITO ALÉM DOS HORIZONTES
Quando os pesquisadores desejarem no futuro alguma informação sobre a implantação do planejamento na administração pública de Santa Catarina, irão encontrar uma referência obrigatória. O professor Alcides Abreu atuou em todas as etapas do processo, antes, durante e depois do Governo Celso Ramos, um marco na história catarinense em termos de planejamento estratégico.
Quando algum catarinense quiser nas próximas décadas conhecer as origens do modelar treinamento dado pelo Senai aos técnicos de nível médio, vitais durante décadas e até hoje no aprimoramento da mão de obra especializada e na qualificação dos produtos industriais catarinenses aqui e no exterior, encontrará uma fonte inspiradora compulsória: a presença do professor Alcides Abreu, desde a plantação das primeiras sementes desse magnífico Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Quando estudiosos fizerem uma retrospectiva sobre avanços extraordinários na educação catarinense, lá encontrarão em posição de destaque na galeria dos notáveis, entre os professores Henrique da Silva Fontes, João David Ferreira Lima, Elpídio Barbosa, Osvaldo Ferreira de Melo e Sílvio Coelho dos Santos, o laureado professor Alcides Abreu.
Se o assunto for dinamização do setor financeiro, suas impressões digitais marcam a fundação do Banco do Estado de Santa Catarina, fator dinâmico do desenvolvimento estadual nos últimos 50 anos, neste ano incorporado ao Banco do Brasil.
Se o capítulo da retrospectiva tiver relação com as teles, outra posição nobre está destinada ao professor Alcides Abreu, projetando, implantando e inaugurando em Santa Catarina o mais avançado e ambicioso plano de telefonia fixa do Brasil em todos os tempos.
Enfim, tudo o que se referir à educação, à tecnologia, ao desenvolvimento industrial, cultura, planejamento estratégico, gestão pública, globalização, descentralização dos serviços públicos, promoção agrícola, encontrará o nome deste premiado catarinense.
Sua atuação constitui raro consenso na constelação de estrelas políticas, empresariais, parlamentares, sociais e culturais que atuaram e continuam brilhando no Estado, por sucessivas gerações, sobre suas virtudes e suas qualidades.
Para uns, é um dos catarinenses mais inteligentes a pavimentar vias inovadoras no século passado, em diversos setores da atividade humana, pública ou privada. Para outros, um cérebro privilegiado, um visionário com os pés no chão, pragmático e realizador. Um terceiro grupo o identifica como portador dos méritos encontrados entre genialidades que marcaram a história da humanidade. E há os que o incluem na restrita lista dos iluminados pelos magníficos exemplos de espiritualidade, solidariedade humana e trabalhos de voluntariado, que realizou durante décadas e continua a desenvolver.
Foi um dos mais disciplinados e assíduos colaboradores da Federação Espírita Catarinense, da Seove e de inúmeras instituições filantrópicas e assistenciais, muitas presididas na época por seu irmão, o saudoso professor Hélio Abreu. Durante quase 15 anos entrava direto nos hospitais, sem que os seguranças e porteiros exigissem qualquer identificação. Sempre de branco, era confundido com os integrantes do corpo médico. Ia em missão humanitária, visitando os pacientes internados, sempre com uma sacola com balas, pirulitos e bombons que os mais idosos, invariavelmente, guardavam para presentear os netos, a maioria do interior do Estado. Tudo feito de forma silenciosa, blindado pelo anonimato.
Em tempos passados, notabilizou-se como um dos maiores incentivadores dos artistas catarinenses. Quando o consagrado Rodrigo de Haro realizou sua primeira exposição em Florianópolis, Alcides Abreu deu o maior incentivo, comprando toda a coleção, numa vocação para o mecenato, incomum em terras catarinenses.
O professor Alcides Abreu é tudo isto e muito mais. Um personagem de difícil conceituação, pelos incontáveis méritos a robustecer um currículo invejável, cujo conteúdo começa muito cedo, já quando frequentava a Faculdade de Direito de Santa Catarina, e vai sendo enriquecido por títulos de organizações nacionais e internacionais, com crescente grandeza e respeitabilidade.
Para quem exerce o jornalismo ou aprecia um interlocutor culto e instigante, raro encontrar em Santa Catarina alguém com tanta vitalidade, energia, sabedoria e conteúdo. Não precisa nem perguntar. Basta uma palavra, uma frase, que sua mente excepcional começa a multiplicar as fronteiras do diálogo, iluminando a temática e toda a conversa.
Com uma precisão matemática, tanto pode dar uma resposta mais econômica que reduz a possibilidade da réplica, como estender-se por caminhos inimagináveis ao expor seus pensamentos, invariavelmente, no contexto do futuro, sem perder jamais a perspectiva do cenário mundial e a necessária perspectiva na visão local e regional.
Se viveu dias de amargura, guardou-os para a intimidade de seu lar. É raro encontrar algum amigo ou conhecido que com ele tenha mantido alguma discussão mais acalorada. Ao contrário, alegre e jovial até hoje, no auge dos seus 83 anos, o professor Alcides Abreu tem a acolhida generosa como tradição do encontro. E, aos amigos, sempre a esboçar um sorriso contagiante até quando trata de assunto mais sério. Em determinados momentos, desponta como um craque ao ironizar realidades, discursos ou problemas lançados no noticiário. Soberba, sarcasmo, zombaria e atitudes semelhantes são palavras excluídas de seu dicionário e inexistentes em sua exemplar atuação, qualquer que seja o ambiente de lazer ou de trabalho.
É um catarinense comprometido com a verdade e com o futuro, acima de partidos, de ideologias, de quaisquer preconceitos. Pelas mãos do interventor federal Nereu Ramos, de seu PSD (Partido Social Democrático), por méritos pessoais e pela intervenção da saudosa mãe, conquistou bolsa para frequentar o internato do Colégio Catarinense, instituição de ensino mantida pela Companhia de Jesus, considerada a melhor do Estado e modelo no Sul do Brasil. Autorizado pelo governador Irineu Bornhausen, da UDN (União Democrática Nacional), viajou para a Europa em busca de saber na Sorbonne.
Viveu diuturnamente a experiência da maior transformação por que passou o Estado: os inéditos Seminários Socioeconômicos, o governo Celso Ramos, o Plameg e tudo o que de inovador aquele período trouxe para os catarinenses.
Idealizou e trabalhou ativamente pela execução do Projeto Catarinense de Desenvolvimento, como principal colaborador do governador Colombo Salles.
Cooperou com as duas gestões do governador Esperidião Amin, tendo elaborado integralmente o Plano de Governo lançado na campanha de 2002. É amigo pessoal do líder progressista.
Integra hoje o Consult (Conselho Consultivo Superior ), criado no Governo Luiz Henrique da Silveira e composto por notáveis da política, do empresariado e da administração, catarinenses e brasileiros. Ali, tem oferecido contribuições extraordinárias visando preparar Santa Catarina para as próximas décadas. É também amigo pessoal do líder peemedebista, de quem recebeu a Medalha do Mérito Anita Garibaldi, maior condecoração do Estado de Santa Catarina.
Do IHGSC (Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina) é membro honorário. Na ACL (Academia Catarinense de Letras), ocupa a cadeira número 16. Nas duas instituições culturais costuma fazer intervenções lúcidas, precisas, sábias e sempre revelando uma memória privilegiada.
—
Conhecendo o professor Alcides Abreu há mais de 45 anos, recebi com emoção e alegria, consciente da grande responsabilidade, o convite do desembargador e amigo Volnei Ivo Carlin para com ele prestar merecida homenagem ao grande mestre do Direito, da Economia, da Filosofia e da Cultura de Santa Catarina e do Brasil.
Uma convivência quase sempre profissional. Ele como autoridade, eu como repórter. As conversas, em qualquer encontro casual, ricas, infindáveis, encorajadoras, provocativas, elucidadoras. Não recordo de em um único momento ter avaliações evasivas. Todos os assuntos eram analisados com profundidade, clarividência e visão de futuro. No governo, ou fora dele, a sabedoria daquele personagem, bigode escuro, sempre vestindo branco, receptivo e disponível, trazendo a magia do conhecimento sobre temas de um leque rico, variado e infindável.
Jovem ainda, eleito presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, procurei imprimir uma nova dinâmica, com promoções culturais, eventos profissionais e atividades que dessem projeção e credibilidade àquela organização. O vigésimo aniversário de fundação iria marcar uma revelação e uma oportunidade. Alcides Abreu estava na relação dos fundadores, extraída dos arquivos do Ministério do Trabalho. Colaborador de vários jornais, fez o registro provisório e recebeu solenemente o merecido diploma.
Caminhos que se cruzaram centenas de vezes no “campus” da Universidade Federal de Santa Catarina, onde suas intervenções eram sempre acompanhadas com muito silêncio e redobrada atenção. E que iriam se tornar mais fraternos e descontraídos – e igualmente férteis – na Academia Catarinense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
A ideia de alguma homenagem, especialmente, em forma de livro, ao professor Alcides Abreu, era antiga. A sugestão do desembargador Volnei Carlin tornaria possível o sonho e o projeto, dando-lhe maior dimensão e consistência.
Pela ausência de formação literária, optei pela contribuição jornalística. Definido o projeto, em encontros agradáveis de fins de semana ensolarados na Cachoeira do Bom Jesus, passou-se à ação. Com a concordância do homenageado, conquistada em agradável encontro no Tribunal de Justiça, passou-se às pesquisas.
Enquanto o desembargador Volnei Carlin fazia um primoroso levantamento sobre a vida acadêmica, dediquei-me à leitura de textos sobre a atuação política e administrativa. Ouvi velhos e novos amigos, colegas de governo e de academia.
A concepção inicial, que se completa com esta edição, previa uma série de entrevistas com o professor Alcides Abreu, para publicação no formato “pingue-pongue”, seguindo fórmula adotada nos livros dos ex-governadores Ivo Silveira e Colombo Salles e ex-deputado Victor Fontana.
Os primeiros encontros foram gravados. Prioridade para aspectos pessoais, familiares, infância e adolescência do professor Alcides Abreu, episódios ignorados de sua presença na comunidade catarinense, como a preferência absoluta pela roupa e calçados brancos e o prazer pelas longas caminhadas.
Na quinta rodada veio a sugestão do entrevistado para que as perguntas sobre sua trajetória no governo e fora dele fossem enviadas por escrito. Como sua caligrafia é de qualidade, facilitando a leitura, a fórmula agilizaria o processo de digitalização, prescindindo a penosa tarefa de degravação.
Foi o modelo adotado. Experiência singular que se revelou positiva, considerando o espaço oferecido para explanações conexas, dados e números oficiais e resgate absolutamente preciso de fatos históricos. Mas que pode acabar sendo parcialmente frustrante, se considerar a inexistência de réplica, quando a resposta se oferece incompleta ou tangencial. De outro lado, a leitura terá o mérito de revelar o estilo redacional do entrevistado, a formulação do pensamento, a agilidade do raciocínio e o posicionamento cristalino diante de fatos novos ou antigos.
O professor Alcides Abreu devolveu a entrevista escrita. Foi ela digitalizada e revisada. E outra vez submetida ao entrevistado para correções, supressões e acréscimos.
Esta segunda parte do livro, portanto, está integrada de três diferentes entrevistas: 1. A conversa gravada no apartamento do professor Alcides Abreu, em sucessivas reuniões; 2. Entrevistas publicadas em setembro de 1982 no jornal O Estado, de Florianópolis – não há ali qualquer mudança dos textos, justamente para mostrar aos leitores sua visão de futuro e sua visão premonitória; 3. A entrevista escrita.
Há um conhecido provérbio chinês que sintetiza o perfil deste singular catarinense: “Se os teus projetos forem para um ano, semeia um grão. Se forem para dez anos, planta uma árvore. Se forem para cem anos, educa o povo”.
Alcides Abreu plantou centenas de grãos, plantou dezenas de árvores, ergueu milhares de escolas. E, embora não tenha chefiado nenhum poder do Estado, tudo o que concebeu, empreendeu e realizou teve a marca de um verdadeiro estadista.
==
Avaliações
Não há avaliações ainda.