Aborto e Contracepção – Histórias que ninguém conta

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Categoria: SKU: 978-85-7474-630-2

Descrição

Organizadoras: Silvia Maria Fávero Arend, Gláucia de Oliveira Assis e Flávia de Mattos Motta

ISBN: 978-85-7474-630-2

Páginas: 304 il.

Peso: 560g

Ano: 2012

Capa: Felipe Bruno Martins Fernandes

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Este é um livro sobre um tema proibido: o aborto. Em nosso País uma prática oculta, clandestina e ilegal, porém todas as mulheres, das mais distintas classes, culturas e gerações, conhecem ou ouviram falar. Segredos que ninguém conta e a lei castiga com prisão ao considerar a ação um crime contra a vida, que médicos e enfermeiras encaram com severidade, que a ética religiosa impõe um grande temor e que a sociedade esconde em suas vergonhas. Como se não bastasse, é um emaranhado ambiente hostil ao bem-estar e à saúde das mulheres. São histórias, aqui relatadas, de sobrevivência e resistência de mulheres de uma comunidade de Florianópolis, diante de uma decisão de abortar.

A ousadia das onze autoras e dois autores deste livro se ampara em seu engajamento na luta pelos direitos humanos e justiça social, para os quais descriminalização é a saída para este grave problema de saúde pública.

Como parte de um novo capítulo da história das humanidades, a pesquisa de campo foi feita em equipe e os dados foram socializados entre as pesquisadoras, que os decifraram a partir de diferentes olhares. O espírito de cooperação e de diálogo interdisciplinar é uma das experiências mais fascinantes da leitura deste livro. Há autoras engajadas, porém sensíveis à realidade das mulheres que contam histórias que ninguém conta.

O presente volume traz um olhar complexo e sutil para o difícil tema do aborto voluntário no Brasil. É fruto da colaboração de pesquisadores de várias áreas (antropologia, história, pedagogia, enfermagem) e mostra claramente os benefícios desse tipo de abordagem multidisciplinar. Na primeira parte, a questão do aborto voluntário é sutilizada não através de princípios filosóficos ou jurídicos formais, mas por um mergulho nas incrivelmente variadas experiências e nos sentimentos ambivalentes das pessoas mais envolvidas – mulheres que, em algum momento de suas vidas, intervieram para provocar o término prematuro de uma gravidez. São principalmente essas mulheres, conhecidas durante a pesquisa de campo em bairros populares da grande Florianópolis, que povoam as páginas deste livro. Na delicada tarefa de levar suas interlocutoras a falar sobre experiências difíceis do passado, as pesquisadoras descrevem as palavras e os gestos em toda sua densidade, contextualizado-os por meio de um cuidadoso trabalho etnográfico que inclui uma riqueza de dados — sobre família, gênero, diferentes formas de contracepção e outros elementos do cotidiano.

Com as receitas de chá, repassadas entre vizinhas, nós leitores aprendemos a apreciar a distinção entre “tirar uma criança” (isto é, fazer um aborto) e simplesmente “fazer descer as regras”. Com os remédios comprados debaixo do balcão nas pequenas vendas e nos botecos de esquina (por exemplo, cápsulas contendo mercúrio puro), constatamos a dimensão dos riscos que correm essas mulheres pouco informadas e obrigadas a se submeter a um negócio sem qualquer garantia. Com os comprimidos de citotec – comercializados legalmente para determinadas moléstias e, no entanto, de uso terminantemente proibido para mulheres grávidas – aprendemos a reconhecer a arbitrariedade das leis existentes. Vemos como as leis criam zonas ambíguas de ilegalidade, impedindo que mulheres com complicações seguindo esse tipo de aborto procurem ajuda médica. E, com as intervenções cirúrgicas, chegamos a conhecer um campo amplo e heterogêneo, de qualidade e custo muito variaveis, em que as desigualdades tão presentes na sociedade brasileira se acentuam. Constata-se uma situação em que certas mulheres conseguem passar a uma nova etapa da vida sem maiores incidentes, enquanto outras correm enormes riscos, morrendo ou tendo partos indesejados com, eventualmente, o nascimento de um bebê sequelado.

As autoras e os autores deste volume (onze mulheres e dois homens) não neglenciaram, entretanto, outros atores relevantes do cenário, dando ampla voz a trabalhadores de saúde e forças institucionais como a lei e a midia. Em todos os lugares, percebemos influências importantes sobre a maneira em que as mulheres concebem e decidem levar adiante (ou não) sua gravidez. Ao percorrer esses capítulos, o leitor, mais uma vez, se convence da profundidade das controvérsias. Da grande imprensa até as publicações dirigidas especificamente aos fieis da igreja católica, das matérias de capa até as cartas ao leitor, as pessoas expressam suas convicções contra ou a favor do aborto voluntário, calcadas em bases médicas, humanistas, feministas, religiosas, filosóficas e outras. As análises, enriquecidas aqui por uma perspectiva diacrônica, destacam a evolução histórica da lei e das próprias políticas públicas sobre contracepção e aborto. Dessa maneira, colocam reflexões sobre biopolítica a serviço de uma pesquisa engajada, em busca de uma visão abrangente da questão. Contudo, a grande qualidade desta proposta é que, ao mesmo tempo em que retrata os diversos pontos de vista, não se furta à responsabilidade de assumir uma perspectiva “posicionada”, mostrando claramente a “voz” autoral (ao lado de outras, divergentes) não como verdade última, mas como uma postura bem fundamentada que convoca leitoras e leitores a entrar no diálogo e a refletir junto com ela.

Claudia Fonseca

Autoras/es:

Autero Maximiliano dos Reis
Carmem Susana Tornquist
Denise Soares Miguel
Fernando José Benetti
Flávia de Mattos Motta
Francine Magalhães Brites
Gláucia de Oliveira Assis
Júlia Rodrigues Vieira
Marina Lis Wassmansdorf
Rozeli Maria Porto
Silvana Maria Pereira
Silvia Maria Fávero Arend
Thaís Cardozo Favarin

Informação adicional

Peso 660,00 g
Dimensões 16 × 23 cm

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