Descrição
Árvores de Natal enormes. O afiador de facas. As ciganas que liam as mãos. O castelinho do Alto da Bronze. A escadaria da João Manoel.
Os fantoches que o pai nos trouxe do Rio. A coleção das obras de Machado de Assis na estante do corredor. Nossa caminhada até o Sévigné. Canetas Parker. Mata-borrões. A letra miúda da Dety. As chatas aulas de piano da dona Alba, na Fernando Machado.
Brincadeiras na calçada da João Manoel. Passeios de Rover. Minha blusa de cashmere azul claro. Saias de lã plissadas. Andar pela casa com os sapatos altos da mãe. A viagem de trem para Cachoeira. As ciganas.
As primaveras serão inúteis? Essa que atravessamos
é de uma inutilidade total. Os pássaros se recusam a cantar. A praia é quase proibida. As flores nascem murchas. Os pores de sol, mornos. Talvez, no verão. Quem sabe em um outono distante?
Poesia, talvez.
Te olho em meio à bruma
da manhã, entre inútil
e preguiçosa nessa
terça-feira que começa. Alguém disse outono.
O Chile despertou.
As flores azuis envolvem
o parque.
E eu sonho com amanhãs mais bonitos.
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