Descrição
Obras Escolhidas Volume 1
Autor: Theotonio Dos Santos
Traduções do espanhol: Marcelo Hipólito López e Maria de Fátima Jardim
ISBN: 978-65-86428-19-3
Páginas: 232 il.
Ano: 2020
Este livro abre a série das Obras Escolhidas de Theotonio dos Santos, que formulou e articulou com André Gunder Frank, Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra entre tantos outros que hoje continuam a dedicar-se à Teoria Marxista da Dependência, uma das maiores construções intelectuais da metade do século 20 no plano das ciências sociais, extremamente relevante para o processo político e social latino-americano. Tornou a análise da dependência um extraordinário recurso para compreender e prever a evolução das sociedades periféricas e as contradições do capitalismo na América Latina. Dependência, superexploração do trabalho, intercâmbio desigual são conceitos-chaves para a compreensão dos fenômenos fundamentais do mundo contemporâneo.
“Caro leitor, se você não conhecia bem esta temática tão bem ocultada pelos setores mais conservadores ou comprometidos da nossa intelectualidade, não pense que vai encontrar aqui um repousante recanto para sua vida teórica. Aqui só há desafios teóricos e históricos gigantescos sobre os quais necessitamos trabalhar incansavelmente. Você está entrando em águas agitadas…”, alerta o autor.
A emergência do pensamento crítico latino-americano representou decisiva superação do horizonte liberal nas ciências sociais. No entanto, a partir da grande onda conservadora que se impôs no inicio da década de oitenta nos países centrais, a periferia capitalista em geral, e a latino-americana em particular, sofreu importante regressão político-intelectual. A convergência entre aquele conservadorismo nos países centrais e o processo de redemocratização na América Latina produziu as democracias restringidas que até o momento sofremos.
No entanto, o regime político liberal dominante não poderá produzir jamais uma democracia para as amplas maiorias que produzem a riqueza em nossos países. A razão é simples: nos marcos do capitalismo dependente, submetidos à superexploração da força de trabalho, o apelo à cidadania e o respeito aos direitos sociais são de impossível realização. Os textos reunidos por Theotônio dos Santos neste livro constituem memória de uma época em que as ilusões liberais não resistiam ao embate da tradição crítica latino-americana. Em consequência preconizam que a democracia é incompatível com o capitalismo dependente da mesma forma que somente o socialismo poderá redimir as maiorias da miséria e da exploração a que estão submetidas nestes três séculos de colonialismo e outros dois de subdesenvolvimento e dependência.
Por outro lado, o labor intelectual do autor demonstra que à sociologia e à ciência política não estaria reservado tão somente o triste papel de justificar a dominação burguesa entre nós com as futilidades acadêmicas de costume. Ao contrário, a função da sociologia crítica e dos intelectuais independentes, tanto aqui na periferia quanto nos países centrais, consiste precisamente em não permitir que as conquistas teóricas mais importantes logradas pelas gerações anteriores não permaneçam esquecidas como se de fato não existissem. Aqui reside a atualidade dos textos escritos pelo autor há quase 30 anos. São textos que nos fazem recordar a vitalidade de uma tradição crítica de pensamento que retomou atualidade no momento em que a Pátria Grande despertou novamente para os temas inerentes à revolução social em curso em muitos países da América Latina e que somente poderá chegar a bom termo com a conquista do socialismo.
Nildo Ouriques
Theotonio dos Santos Júnior (Carangola, 11 de novembro de 1936) é um economista e cientista político brasileiro. Um dos formuladores da Teoria da Dependência. Hoje é um dos principais expoentes da Teoria do Sistema Mundo. Mestre em Ciência Política pela UnB e doutor “notório saber” pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor emérito da UFF. Presidente da Cátedra e Rede UNESCO-Universidade das Nações Unidas (UNU) de “Economia Global e Desenvolvimento Sustentável”-REGGEN.
Tem mais de cem livros publicados em quarenta países e dezessete línguas, principalmente em espanhol.
Prêmios e Títulos
▪ 2013 − Premio de Economista Marxiano de 2013 da Associação Mundial de Economia Política (WAPE), Xangai.
▪ 2011 − Doutor Honoris Causa, Universidad Nacional de Valparaíso, Chile.
▪ 2009 − Comenda da Ordem do Rio Branco, Ministério das Relações Exteriores-Brasil.
▪ 2009 − Doutor Honoris Causa, Universidad de Buenos Aires, Argentina.
▪ 2009 − Doutor Honoris Causa, Universidad Ricardo Palma, Peru.
▪ 2008 − Doutor Honoris Causa, Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Perú.
▪ 2003 − Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense.
▪ 1999 − Professor Emérito, Universidade Ricardo Palma, Lima, Peru.
▪ 1999 − Medalha Haya de la Torre, APRA, Peru.
▪ 1997 − Medalha Luis Carlos Pestes, Inverta, Brasil.
▪ 1996 − Medalha Bernardo O’Higgins, Chile.
Sobre esta reedição ampliada e atualizada
Este livro foi publicado originalmente no Brasil em 2000 pela Editora Civilização Brasileira. Em 2002 surgia uma edição em castelhano, no México e na Argentina (respectivamente pelas editoras Plaza y Janés e Sudamericana) e na China, editado numa homenagem da Unesco aos meus 60 anos, em dois volumes, aos quais a Academia de Ciências Sociais da China agregou, além deste, outro livro meu sobre Economia Mundial. Este livro insistia numa tese que já vínhamos defendendo em vários trabalhos: a retomada da teoria da dependência em escala mundial estava em marcha na medida em que avançava a crise da última investida ideológica do grande capital em escala mundial que se chamou de neoliberalismo.
Nestes últimos 14 anos, vem se constituindo uma corrente de pensamento sob o título de Teoria Marxista da Dependência (TMD) que vem ampliando sua base acadêmica em várias partes do mundo e vem sendo assumida também como referência teórica por importantes setores dos movimentos sociais, com especial ênfase no Movimento dos Sem Terra no Brasil (MST) que publicou recentemente um vídeo em homenagem a Ruy Mauro Marini, nosso colega fraternal cuja contribuição central a esta corrente de pensamento é incorporada amplamente neste livro.
Ao mesmo tempo, o enfoque do sistema mundial que tanto valorizamos, vem alcançando novas fases de desenvolvimento teórico altamente significativo e são muitas as instituições acadêmicas que se consideram integradas neste enfoque que ganhou um enorme campo de seguidores não só na história e na sociologia, como também na Geografia, na Ciência Política e na Economia (particularmente as correntes que retomaram o sentido histórico da Economia Política). Nunca devemos esquecer o papel articulador de Inmanuel Wallerstein, mas nos cabe lamentar a morte deste companheiro tão criativo que foi Giovanni Arrighi.
Também devemos ressaltar o interesse crescente sobre a obra de André Gunder Frank, com o qual discutimos amplamente o conteúdo deste livro. Por esta razão introduzimos numa quarta parte do livro as apreciações de André sobre a primeira edição do mesmo.
Quero lamentar aqui a falta de uma análise sobre a obra de companheiros fundamentais para o desenvolvimento da temática aqui apresentada e que estiveram presentes no momento da elaboração teórica na ebulição histórica que foi o encontro dos brasileiros com o processo chileno, mas que entregaram contribuições fundamentais como Aníbal Quijano, ainda em plena produção, e companheiros infelizmente já desaparecidos como Florestan Fernandes, Octávio Ianni e tantos outros, vivos ou mortos, que seria injusto deixar de nomear aqui, mas que re¬nuncio fazê-lo neste espaço limitado.
Chama a atenção o texto de André Gunder Frank que reproduzimos, no qual resgata os elementos comuns com um autor que se aproximou cada vez mais (ou vice-versa?) do campo teórico que a teoria da dependência desenvolveu. Trata-se de Celso Furtado, cuja obra está cada vez mais em estudo devido ao trabalho magnífico de Rosa de Aguiar Furtado na direção do Centro Internacional Celso Furtado. Não posso deixar de relembrar a Darcy Ribeiro, cuja personalidade polifacética tende às vezes a ocultar sua obra teórica tão fundamental e que tanto se aproximou de nosso trabalho.
Caro leitor, se você não conhecia bem esta temática tão bem ocultada pelos setores mais conservadores ou comprometidos da nossa intelectualidade, não pense que vai encontrar aqui um repousante recanto para sua vida teórica. Aqui só há desafios teóricos e históricos gigantescos sobre os quais necessitamos trabalhar incansavelmente. Você está entrando em águas agitadas…
Theotonio Dos Santos
Prólogo à primeira edição
Este livro reúne três artigos do autor que foram revistos para compor um panorama mais abrangente sobre a teoria da dependência, sua evolução e o amplo debate que suscitou.
A atualidade do tema se destaca particularmente na terceira parte do livro quando se discute a influência desta teoria e das polêmicas a ela associadas com a política econômica hoje executada pelo governo Fernando Henrique Cardoso, um dos autores originais da teoria.
Na medida em que eu, com Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra somos considerados uma das correntes mais radicais desta teoria, onde se inscreveram muitos outros cientistas sociais, entre os quais se deve destacar, sobretudo, a André Gunder Frank, cabia a mim retomar o fio da meada de uma polêmica que está profundamente associada à história dos povos colonizados e dependentes. A emancipação política de grande parte desses povos depois da Segunda Guerra Mundial não assegurou ainda sua plena realização histórica. Este livro é mais uma contribuição a esta luta que, como mostramos, passa profundamente pela luta ideológica, pela história das ideias e pela evolução das ciências sociais, convertidas em redutos acadêmicos similares ao pensamento escolástico medieval.
Theotonio Dos Santos
Niterói, Novembro de 1998
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