Descrição
Autor: Carlos Ríos
Tradução de Antonio Carlos Santos
ISBN: 978-85-7474-954-9
48 páginas
Peso: 45g
Ano 2016
A matança de porcos, um tema caro à pintura holandesa dos séculos XVI e XVII, dá início à vida artística desse pintor, o artista sanitário, que de Oslo, Noruega, se translada ao México dos muralistas. Com essa novelita, Carlos Ríos nos põe direto em contato com temas tão inquietantes como a ingestão de carne humana e o abate de animais, tema fundante da literatura argentina (basta lembrar O matadouro, de Esteban Echeverría) que gera toda uma série de perguntas éticas e biopolíticas. Entre a prosa e a poesia, o texto de Ríos recupera para a literatura seu caráter encantatório e o prazer da narrativa.
Carlos Ríos nasceu em Santa Teresita, província de Buenos Aires, Argentina, em 1967. Poeta e escritor, coordena desde 2011 oficinas literárias em prisões. Publicou poemas Media Romana (2001), La salud de W.R. (2005), La recepción de una forma (2006), Nosotros no (2011), Perder la cabeza (2013) e Excursión a Farandulí (2014); e narrativas Manigua (2009), A la sombra de Chaki Chan (2011), Cuaderno de Pripyat (2012), Cielo ácido (2014), Lisiana, Cuaderno de campo e En saco roto (2014). Manigua foi publicado também na Espanha e no Brasil, Cuaderno de Pripyat, na França, e Recepción de una forma, no México, onde o autor morou de 2002 a 2009.
Página 9
Vestlandet, Sogn og Fjordane.
Matança de noventa e dois porcos na granja familiar.
Embora pareça que foi ontem, aconteceu há mais de vinte anos. Como aquele dia, o vapor de sangue pode ser sentido no ar que assedia com suas lufadas o edifício ministerial de Oslo a Refratária.
Nessa construção monumental há uma habitação, a sua, e na mesa de luz repousa um copo e o porta-comprimidos prateado em cuja superfície pode ser lido o nome de sua mãe.
Está a mão direita que vai em direção à caixa como a extensão de um arbusto horizontal. E em um ademã que cresce até duplicar-se, é a mão transparente de um santo a que leva o comprimido azul a sua boca.
Se conhecesse os elevadores de Paris poderia dizer que essa é a sensação de descida no esôfago quando o comprimido viaja ao centro de seu corpo.
O artista sanitário fecha os olhos. Conta até sessenta quatro vezes. Na quinta se perde antes de chegar ao número quarenta. É sempre assim. Então a pintura retorna, como uma aparição.
Guarda-a em seus órgãos visuais como a besta dobra em seu estômago o animal que segundos antes flutuava com inocência no ar encarnado de Oslo a Refratária.
(…)
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